Priscilla Silva
Estadão Mato Grosso
Mais um bebê com menos de 1 ano morreu vítima da covid-19 em Mato Grosso, que, precisamente, já notificou nove perdas nessa idade até a manhã da quarta-feira (5). O óbito foi confirmado no dia 4 de agosto, mesma data em que o estado registrou o maior número de pessoas que perderam suas vidas em razão da doença. Desconhecida e letal para os que possuem histórico de doenças graves, o comportamento do vírus cientificamente conhecido como Sars-CoV-2 em crianças na faixa etária de até 1 ano tem desafiado os protocolos médicos de tratamento.
A quantidade de vidas perdidas em menos de 24 horas em Mato Grosso atingiu seu maior pico na tarde de terça-feira (4). Foram 70 ocorrências de óbitos confirmados pelas secretarias municipais de Saúde de 31 municípios. Um deles, de um bebê com menos de 1 ano, que ocorreu na cidade de Bom Jesus do Araguaia (850 quilômetros de distância de Cuiabá).
Com mais essa morte, o estado já registrou 9 mortes de bebês desde o início da pandemia e mais de 496 casos confirmados segundo informações da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) à nossa reportagem. A incidência de casos graves da doença em crianças é considerada baixa em relação à ocorrência em adultos.
“O vírus é letal. Ele adoece menos as crianças, mas nas que têm comorbidades ou baixa imunidade geralmente ele é mais letal, ou seja, mata mais do que outros vírus por ser bem agressivo”, explica Paula Bumlai, pediatra e coordenadora da UTI Neonatal Hospital Santa Rosa, em Cuiabá.
Com as experiências adquiridas cuidando de crianças com covid-19, a médica ressalta que as mais saudáveis têm pouco ou nenhum sintoma, mesmo tendo contato com pai ou mãe doentes. Agora, as crianças que apresentam problemas respiratórios ou acabam internadas por pneumonia viral apresentam quadros semelhantes aos dos adultos e evoluem até para desfechos negativos.
Ainda é pouco o que se sabe sobre o vírus. Estudos sobre o comportamento dele em cada indivíduo aponta que ele não segue um padrão, o que é um desafio para os pesquisadores. Em se tratando de ocorrência em crianças com menos de 1 ano, a dificuldade fica maior, pois, pelo fato de a faixa etária não ser considerada o grupo mais afetado pela doença, poucos estudos estão sendo realizados.
“Geralmente são crianças que têm alguma outra doença associada, que são as comorbidades, como chiado no pulmão, asma, que já nascem com problema neurológicos e ficam acamadas, elas são as mais suscetíveis a um caso mais grave da doença”, informa Bumlai.
Segundo a médica, foi observado que quando o comportamento da doença é grave na criança e assemelha-se ao que acontece com um adulto, mas as condutas são diferentes dentro da Terapia Intensiva.
“Na neonatal, por exemplo, ela se assemelha ao tratamento realizado com doenças graves como pneumonia bacteriana e HN1, pois a covid não difere muito dessas outras virais, porém é uma doença que vem muito agressiva, com quadro de piora rápido. Na UTI precisamos sempre estar de prontidão para atender essas crianças da forma mais rápida possível”, conta a pediatra.
Ao longo desses últimos quatro meses que conviveu com a covid-19, os brasileiros popularizaram medicações que “milagrosamente” poderiam blindar a doença. De vermífugos de laboratórios a receitas caseiras, a população tenta se apegar a algo que lhe dê garantia de saúde, mas o mesmo tratamento caseiro não pode ser realizado em crianças.
Como tratar as crianças
A maioria das crianças não desenvolvem ou apresentam sintomas ao se infectar com o vírus Sars-CoV-2 e são consideradas vetores da doença, ou seja, um meio de transmissão. Porém, há um grupo que corre maior risco e exige atenção redobrada dos profissionais, pois o avanço da doença é impreciso, podendo ser veloz em uns e mais lento em outros.
“Não há, hoje, nenhuma indicação ou recomendação de medicação profilática ou preventiva para crianças. Importante lembrar que as crianças têm a dificuldade da dosagem, pois ela varia conforme o peso e pode se tornar um veneno quando administrada de forma errada. Não é recomendada qualquer medicação feita em casa sem acompanhamento médico do paciente”, alerta a pediatra.
Os pais ou responsáveis podem proteger as crianças adotando uma rotina saudável. “Busque manter a vacinação em dia, que é muito importante para deixar o sistema imunológico da criança ativo, levá-la para tomar sol, ingerir bastante líquido e ter uma alimentação balanceada” prescreve a médica.
Enquanto as buscas científicas ainda não são conclusivas para dar segurança ao convívio social e até mesmo familiar, as regras básicas de higiene e proteção – definidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – seguem fazendo parte da nossa rotina como um conselho de mãe, que nunca deixa de ser repetido: lave as mãos, use máscaras e mantenha-se a uma distância segura entre as pessoas.
Dados
No último boletim epidemiológico sobre a covid-19, divulgado pelo Ministério da Saúde, até o dia 27 de julho, 182 bebês com menos de 1 ano morreram vítimas e outros 1.441 estavam hospitalizados em decorrência da doença no Brasil. Nesse período, Mato Grosso havia notificado seis óbitos nessa faixa etária.
O número de diagnósticos confirmados em bebês, em Mato Grosso, chama atenção. Apesar da baixa manifestação, o estado possuía 496 casos confirmados em bebês com menos de 1 ano de idade até o dia 31 de julho.