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27 de Março de 2022, 09h:12 - A | A

GERAL & ECONOMIA / TRADIÇÃO MATO-GROSSENSE

"Artesã" da farinha, pantaneira de 85 anos ganha documentário

Material é um recorte especial da vida de Dona Nequinha, que mora em Barão de Melgaço

Mídia News



Dona Ana, ou Dona Nequinha, é uma pantaneira de 85 anos que vive no distrito de Acorizal, em Barão de Melgaço. Ali, no lugar onde fincou raízes, ela mantém uma tradição de décadas: a produção da farinha de mandioca.

Sua lida diária no ofício inspirou uma produtora mato-grossense a contar sua história. “Farinha, Festas e Memórias” apresenta um recorte especial da vida de Ana de Queiroz Pereira, seu nome de batismo.

Apesar da idade, até hoje Dona Nequinha produz farinha com o apoio do filho Leopoldino e conta com ajuda de parentes e membros da comunidade.

“A farinha de mandioca representa muito mais do que o ganho financeiro. As etapas da produção de farinha constituem elemento agregador, porque dona Ana, a sua família e comunidade estão envolvidas promovendo interação e trocas coletivas”, diz Jackeline Silva, que está à frente do filme.

Dona Nequinha também faz doce de leite, e ambos os produtos – farinha e doce – são comercializados para gerar renda extra.

Gravado em junho de 2021, o projeto "Farinha, Festas e Memórias" retrata por meio de fotos e filme documentário um fragmento da vida de dona Ana: cenas do cotidiano da relação com a família, a produção de farinha de mandioca e do doce de leite, a música, a fé, as alegrias, lembranças da infância e o envelhecimento.

O projeto foi contemplado no Edital Conexão Mestres da Cultura, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc MT, da Seretaria de Estado de Cultura Esportes e Lazer de Mato Grosso.

Como tudo começou

A ideia do projeto já existia na cabeça de Jackeline desde 2012, quando foi convidada para participar da Festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, festividade muito popular na comunidade Acorizal. Ali a produtora pôde conhecer Dona Ana e toda a sua força.

O trabalho da família de dona Ana era o que proporcionava a alimentação para a festividade tradicional.

Anos depois, em 2020, com a movimentação do fundo emergencial para artistas da Lei Aldir Blanc, pelo edital Conexão Mestres da Cultura, Jackeline viu ali a oportunidade perfeita para colocar o projeto em prática.

Com o projeto aprovado no final de 2020, a equipe entrou em contato com a família, que aceitou. A produção precisou ser pausada por conta da contaminação pela Covid-19.

Para a equipe era fundamental a segurança da imunização, e o alívio foi descobrir que a Dona Ana havia tomado as duas doses da vacina. Com a produção imunizada, e reduzida (cinco pessoas), foi possível retomar em Junho de 2021.

Jackeline desabafa que precisou novamente pausar as produções quando sofreu um imenso abalo emocional, com a perda de sua mãe, Marcelina Brizida da Silva, auxiliar de enfermagem que defendia um atendimento mais digno para mulheres, imigrantes e para a comunidade negra.

"Durante o processo, de junho pra cá, minha mãe faleceu em decorrência da Covid. Precisei pausar a produção porque não tinha condições emocionais para continuar", relata.

Após o momento de luto, Jackeline e a equipe conseguiram contornar os contratempos, e o resultado é um trabalho impecável, rico tanto nas imagens que captam a essência do que é o "conhecimento familiar", quanto na trilha sonora.

"Farinha, Festas e Memórias"

"Farinhas Festas e Memórias" é uma iniciativa trasmídia e conta ainda com uma galeria de fotos de autoria de Julia Muxfeldt. O documentário e a exposição fotográfica estarão disponíveis no site afroprodutora.com.

Jackeline conta que com o documentário pronto, enviou o filme para seus familiares, e foi surpreendida ao descobrir que sua própria família já atuou na produção de farinha de mandioca.

“Trabalhos como esse geram identificação, as pessoas se vêem refletidas nesse modo de vida, no trabalho familiar, onde é tudo mais simples”.

Das trocas que teve com Dona Ana, a que mais marcou a diretora foi uma conversa que teve com a pantaneira, enquanto ela fazia seu famoso doce de leite

"Ali pude sentir a imponência e autonomia dela, ao contar que o seu doce de leite só é como é porque só ela é que sabe o ponto certo. Muitos outros tentam replicar mas só dona Ana sabe o segredo para seu doce de leite ser de tirar o fôlego."

O trabalho da produção de farinha leva dias, e o que seria o trabalho para uma equipe, dona Ana e sua família tiram de letra, porém alguns processos já não são mais tão possíveis para a pantaneira.

"Dona Ana já quase não faz o processo da torra da farinha por causa do esforço por conta do movimento dos braços. Em seu lugar agora, são os homens da família que assumem o processo".

Após lançamento do documentário, inspirados no curta-documental, outros grupos do audiovisual estão planejando documentários no mesmo formato, falando sobre os conhecimentos familiares mato-grossenses.

Gostinho de saudade 

Jackeline relembra a visita a comunidade com orgulho e boas lembranças, incluindo a gustativa . "Comemos muito mané pelado, farofa de banana feita no pilão, comida quentinha feita no fogão a lenha”, ri.

Ficha técnica do curta documentário
Direção: Jackeline Silva
Direção de Fotografia: Juliana Segóvia
Roteiro: Jackeline Silva & Pedro Brites
Produção Executiva: Jackeline Silva
Montagem, Finalização, Color: Pedro Brites / Cachara Estúdio
Trilha Sonora e Som Direto: Augusto Krebs
Assistente de Som e Microfonista: Thiago Veloso
Desenho de som: Augusto Krebs & Pedro Brites
Mixagem e Masterização: Augusto Krebs
Foto Still: Julia Muxfeldt
Assistente de Produção Barão de Melgaço: Leandro Bonfim
Assistente de Produção Cuiabá: Watila Bispo
Identidade visual: Nara Silva Lobo
Site: Felipe Martins
Mídias Sociais: Maurício Pinto
Transporte: Reinaldo Bueno

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