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JUSTIÇA Terça-feira, 16 de Julho de 2019, 12:40 - A | A

16 de Julho de 2019, 12h:40 - A | A

JUSTIÇA / Grampos

Primo de ex-governador é denunciado por enganar delegadas

MPE diz que Paulo Taques queria monitorar a ex-amante e evitar que a intimidade dele fosse exposta. Grampos clandestinos foram denunciados pelo Fantástico em 2017.

Denise Soares
G1 MT



 O ex-secretário de estado Paulo Taques, que é primo do ex-governador Pedro Taques (PSDB), foi denunciado nessa segunda-feira (15) pela Procuradoria Geral de Justiça. Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), Paulo Taques foi denunciado pelos crimes de interceptação ilegal e denunciação caluniosa. Investigações do órgão apontam que o ex-secretário de estado teria induzido delegadas a erro e grampeado celulares da ex-amante e da secretária dele. Paulo Taques é suspeito de ordenar grampos clandestinos operados pela Polícia Militar com objetivos não autorizados em lei.

O esquema foi denunciado em maio de 2017 e descobriu-se que mais de 100 pessoas tiveram os celulares grampeados ilegalmente, entre elas, políticos de oposição do governo, advogados, médicos e jornalistas. O ex-secretário chegou a ser preso em agosto de 2017. A denúncia ocorreu no mesmo dia em que o coronel Zaqueu Barbosa afirmou, em depoimento, que o ex-governador Pedro Taques sabia do esquema de escutas ilegais, assim como o ex-secretário-chefe da Casa Civil Paulo Taques. De acordo com o MPE, Paulo Taques foi amante de Tatiane Sangalli entre 2009 a 2015, data em que assumiu o cargo de secretário-chefe da Casa Civil de Mato Grosso. Antes, em 2014, Paulo Taques teria montado um 'escritório' de interceptações clandestinas durante a campanha eleitoral do primo.

A ex-amante foi interceptada pelo escritório clandestino em outubro de 2014. Tatiane perdeu o cargo de assistente de gabinete e então passou a cobrar de Paulo um novo cargo assim que Pedro Taques foi eleito. Ela ainda teria pedido pagamento da parcela de um carro e com frequência comparecia em eventos oficiais. Ainda conforme a denúncia, Tatiane ficou amiga de Caroline Mariano, funcionária do escritório de advocacia de Paulo Taques e, em janeiro de 2015, passou a trabalhar como secretária dele. “O acusado, preocupado com o término de seu relacionamento, já que Tatiane estava magoada e poderia atingi-lo expondo sua intimidade e, ainda, desconfiado que Caroline vazava informações de seu gabinete para jornalistas, cujas matérias prejudicavam a imagem do governo, resolveu, então, monitorar os três”, diz trecho da denúncia.

O então secretário, sabendo que a ex-amante tinha amizade com a filha de João Arcanjo Ribeiro, conhecido por comandar o jogo do bicho em Mato Grosso, inventou uma 'história' de que a amante e a amiga teriam informações para planejar um suposto atentado contra Pedro Taques. Aproveitando do cargo que ocupava, ele comunicou a suposta história à Secretaria de Segurança Pública e ao então secretário da pasta, Mauro Zaque. O primo do governador alegava que Pedro Taques corria risco de morte.

Paulo ainda apresento uma lista com supostas conversas telefônicas interceptadas – fora do padrão costumeiramente utilizado pelos órgãos de investigação oficiais – denotando que duas mulheres tramariam algo contra si e o então governador. Zaque, desconfiado, questionou sobre a origem do documento. Paulo Taques alegava que era de um órgão federal, escondendo o fato que o documento foi obtido no escritório clandestino.

Os nomes da ex-amante e da amiga foram inseridos em investigações e operações policiais. Zaque, sendo enganado, acionou outros membros das forças de segurança. As informações foram passadas às delegadas Alessandra Saturnino e Alana Darlene Cardoso, à época representantes do setor de inteligência da Polícia Civil. A denúncia aponta que o primo do então governador induziu as delegadas a erro para investigar a suposta ameaça, já que repassou as conversas e informações envolvendo o crime organizado.

As conversas da ex-amante e da amiga foram ouvidas por 15 dias e nada de ilegal foi encontrado. As duas ainda foram alvos de operações e novamente nada ilícito foi achado pela polícia. “Isto demonstra que a suposta ameaça contra a vida do Chefe da Casa Civil e do governador nunca existiu, não passando de uma “história cobertura” inventada pelo acusado para monitorar, ilegalmente, sua ex-amante e sua secretária. Com efeito, o intento de Paulo Taques nunca foi realizar uma investigação criminal, mas sim evitar que sua intimidade fosse exposta e que fatos ocorridos na Casa Civil viessem a público”, detalhou a denúncia do MPE.

A denúncia, assinada por José Antônio Borges Pereira, Procurador-Geral de Justiça, foi encaminhada à 7ª Vara Criminal de Cuiabá. O cabo da Polícia Militar Gerson Corrêa Júnior, acusado de participar de um esquema de escutas telefônicas ilegais, também assumiu a prática de grampos clandestino. Gerson afirmou que as interceptações foram financiadas por Paulo Taques.  

Outro lado  

Sobre essa denúncia, Pedro Taques (PSDB) disse que é inocente das acusações e vai provar em juízo. Já Paulo Taques não quis comentar a declaração de Zaqueu.   

 

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