Joanice de Deus
Diário de Cuiabá
No período de 2003 a 2019, o Brasil apresentou uma média do coeficiente de mortalidade por dengue de 3,05 por 100 mil habitantes. Em Mato Grosso, essa taxa de óbitos é de 6,19/100 mil indivíduos, nível duas vezes maior que o nacional. Os dados são da edição especial do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - 16 anos, divulgado pelo Ministério da Saúde (MS). Com a volta da época de chuvas, aumenta o risco de contágio da dengue, zika e chikungunya.
Além de Mato Grosso, a publicação destaca ainda Goiás, Ceará, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo, com médias do coeficiente de mortalidade até três vezes maior que o nacional. Segundo o MS, o documento tem como objetivo mostrar à população como a vigilância em saúde está presente no dia a dia das pessoas, extrapolando temas como dengue e sarampo.
A edição especial também busca trazer, pela primeira vez, desde 2012, quando entrou em vigor a Lei de Acesso a Informação, em publicação única, dados e análises dos principais agravos que atingiu o país nos últimos 16 anos. Entre eles, coqueluche, tuberculose, malária, Doença de Chagas, febre maculosa, influenza, doenças transmitidas por alimentos, febre amarela, leishmaniose tegumentar e visceral.
Neste ano, conforme últimos dados Secretaria de Estado de Saúde (Ses), houve um aumento de 87,5% das notificações de dengue, em Mato Grosso. Até o último dia 17 de agosto passado, foram 12.878 casos contra 6.868, em 2018.O estado conta com uma taxa de incidência de 385 casos por 100 mil habitantes, o que o deixa com alto risco para a doença. No mesmo período, três óbitos passaram a ser investigados e o município com maior registro é Sinop (516 quilômetros de Cuiabá), com taxa de 1070,1/100 mil pessoas. Já em Cuiabá, os casos de dengue reduziram de 1.283, em 2018, para 404 (-68,5%), neste ano. Em Várzea Grande também houve queda de 1.480 para 76 no mesmo período.
No país, no período de 2003 a maio de 2019, foram notificados 11.137.664 casos prováveis de dengue. Os óbitos confirmados foram 6.234. O boletim do MS revela ainda que a primeira epidemia de dengue aconteceu na década de 1980, em Boa Vista (RR), causada pelos sorotipos 1 e 4. Posteriormente, em 1986, ocorreram epidemias no estado do Rio de Janeiro e em algumas capitais da região nordeste. A partir de então, a dengue é caracterizada por transmissão endêmica e epidêmica determinada, principalmente, pela circulação simultânea dos quatros sorotipos virais (1, 2, 3 e 4).
“A dengue contribui com significativa carga de doença, com importante impacto econômico e social nas populações de áreas endêmicas. É uma doença que afeta todos os níveis sociais, no entanto, o impacto pode ser maior nas populações mais pobres que vivem em áreas com abastecimento de água inadequado, infraestrutura precária e onde as condições de saúde são mais favoráveis para a multiplicação do seu principal vetor”, aponta o documento. Para conter o avanço, em 2002, foi instituído o Programa Nacional de Controle da Dengue, para apoio aos estados e municípios nas ações de prevenção e controle da doença.
Quanto os registros de zika, o boletim revela que, no período de 2016 a 2019, foram notificados 239.634 casos prováveis da doença, no país. Em 2016, o país passou por uma transmissão importante da doença, especialmente, nos municípios de Mato Grosso, Rio de Janeiro e Bahia. Segundo o levantamento, das 23 cidades que apresentaram taxas de incidência maiores ou igual a 2.000 casos/100.000 habitantes, 11 se localizavam na Bahia e nove em Mato Grosso.
De modo inverso, em 2017 e 2018 ocorreu uma redução importante na transmissão de zika, quando comparada ao ano de 2016, com notificações em 18,5% (1.029) e 17% (942) dos municípios, respectivamente. Até a semana epidemiológica de número 18 de 2019, observou-se que 823 municípios (14,8%) notificaram casos da doença, com destaque para os localizados em Tocantins.
Em relação as gestantes, no período 2016 até a semana 18 de 2019, observou-se que o ano de 2016 notificou maior número de casos prováveis de gestantes com zika (16.245). Quando se observa a proporção de casos nesse grupo, em relação ao total de casos da doença na população, verifica-se um incremento ao longo do período analisado, apesar da redução gradativa de casos na população geral. Até a semana epidemiológica 18 de 2019, essa proporção atingiu 24,8%.
Já quanto a chikungunya, o boletim aponta que, entre 2014 e 2019, foram notificados 589.076 casos prováveis e 495 óbitos confirmados por laboratório, sendo 2016 e 2017 os anos com maiores coeficientes de incidência, 114,0 e 89,4 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. No Estado, a taxa foi de 283 e 518/100 mil, no mesmo período.
Vale lembrar que no último dia 12 deste mês, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, lançou, em Brasília (DF), nova campanha publicitária de combate ao mosquito Aedes aegypti. O objetivo é mobilizar a população no combate ao avanço das doenças no país. De acordo com o Ministério da Saúde (MS) o objetivo é conscientizar os gestores estaduais e municipais de saúde e toda a sociedade sobre a importância de se organizarem antes da chegada do período chuvoso no combate ao surgimento de novos criadouros do mosquito.
Com o slogan "E você? Já combateu o mosquito hoje? A mudança começa por você”, a campanha teve início ontem (12) e reforça a necessidade de cada um tomar a iniciativa de proteger a sua casa e de seus familiares. “O mosquito Aedes aegypti está pegando e está pegando como nunca. Não é que isso pareça uma guerra! É uma guerra”, diz o órgão federal da saúde em vídeo publicitário. A gravação segue lembrando que o vetor já fez milhares famílias perderem parentes queridos e já tirou de combate centenas de pessoas, comprometeu o futuro de muitas crianças, que nasceram com microcefalia, que tem como uma das causas o zika vírus.
A população pode realizar ações de prevenção. Para isso, basta tirar 10 minutos do dia para verificar se existe algum tipo de depósito de água no quintal ou dentro de casa, por exemplo. Uma vez por semana, lavar com água, sabão e esfregar com escova os pequenos depósitos móveis, como vasilha de água do animal de estimação e vasos de plantas. Além disso, é preciso descartar o lixo em local adequado, não acumular no quintal ou jogar em praças e terrenos baldios. Limpar as calhas, retirando as folhas que se acumularam no inverno também é importante para evitar pequenas poças de água.