Giro do Boi
Obter o máximo de produtividade com um sistema sustentável de pecuária de corte nos trópicos. É esta a proposta da raça composta Araguaia, criada nos arredores do Vale do Araguaia mato-grossense no começo do século. Nesta segunda, dia 07, um dos criadores de Araguaia, o pecuarista Raul Almeida, da Fazenda Santa Rita, em Torixoreu-MT, falou ao Giro do Boi sobre como os animais combinam sua produtividade com a pegada sustentável da pecuária da região.
O produtor contou sua história na bovinocultura de corte. “Que eu tenha conhecimento, até agora eu sou a quinta geração de pecuária e sempre no agro. Tenho formação, sou engenheiro agrônomo, e desde sempre estou envolvido em questões do agro, da produção, da produtividade, em busca de produzir mais alimentos para o nosso Brasil e agora para o mundo”, disse.
Foi dentro deste contexto que Raul buscou a inovação para cumprir sua missão como produtor de alimentos. Para tanto, apostou numa genética selecionada a dedo para combinar o potencial produtivo com as características do Vale do Araguaia. “Os trabalhos de acasalamento começaram em 2003. A raça Araguaia é um animal composto formado pelo Nelore, Caracu e o Blonde D’Aquitaine. O objetivo foi desenvolver um animal mais produtivo e adaptado aos trópicos, às nossas regiões quentes com período de seca mais prolongado e com temperaturas mais intensas que as demais regiões”, explicou
“A ideia da composição foi a seguinte: o Nelore emprestando a adaptação, a rusticidade e o acabamento de carcaça, o Caracu entrou também potencializando a rusticidade, a habilidade materna e a produção de leite para o bezerro e o Blonde D’Aquitaine é uma raça francesa que é prima do Caracu e ela colocou a musculosidade, ou seja, ele incorporou a maior taxa de conversão, maior rendimento de carne na desossa frigorífica e um maior volume muscular, que se expressa no rendimento maior. Ele é um animal com maior volume muscular e com menor volume visceral”, esclareceu.
Raul destacou quais são os resultados que a raça está viabilizando dentro de sua porteira. “Hoje as fêmeas que são consideradas descarte da fazenda estão sendo abatidas com 14 meses com cerca de 14 a 15 arrobas. Os machos, 18 meses e em torno de 19 arrobas. Isso em sistema de terminação intensiva a pasto”, revelou.
Almeida justificou a escolha da TIP como sistema de engordar. “Por que nós optamos por esse sistema? Questão do bem-estar animal e facilidade de manejo. Você começa a ter menos refugo de cocho, você começam a ter menos problemas gástricos nos animais, possibilitando a eles estarem no ambiente natural. E você disponibilizando uma dieta de alto teor de energia e proteína, ele se regula. O confinamento, quando não tem essa questão de estar no pasto, muitas vezes tem que retirar ele do norte. Então nós temos zero de recuo de cocho, o desempenho animal está pau a pau com o de confinamento e é um animal criado feliz, ele está com sombra, água fresca e comida à vontade. Ele escolhe se ele quer comer ração ou capim”, sustentou.
O produtor também salientou a importância de buscar um sistema de produção financeira e economicamente sustentável dentro da proposta da Liga da Araguaia, da qual faz parte. “É um movimento que começou espontaneamente, cada um com a sua iniciativa em separado […] Então foi uma união de iniciativas, todas elas preocupadas em produzir respeitando o meio ambiente, em sintonia com o meio ambiente. E depois, em uma ação da Agropecuária Roncador, mais especificamente do Caio Penido, ele congregou essa turma num só grupo e daí surgiu a Liga do Araguaia. O objetivo principal da Liga do Araguaia é produzir em harmonia com o meio ambiente. Nós queremos acabar com essa história de polarização entre produtores e ambientalistas. Todos estão no mesmo barco, todos estão lutando pelas mesmas causas. Há condição perfeitamente de nós produzirmos alimento e restaurarmos o planeta, mas trabalhando juntos”, analisou.
“As tecnologias de produção traçam os pilares da produção ambientalmente justa, correta, que nós preconizamos. Ou seja, a melhoria da qualidade das pastagens, a melhoria do manejo das pastagens, a melhoria do manejo animal, o trabalho de evolução da genética, tudo isso resulta num melhor uso do solo. Você potencializa o uso do solo porque você consegue aumentar a taxa de lotação, você diminui a idade entre nascimento e abate e você mitiga as emissões dos gases de efeito estufa, mas também vai um pouco além. Existe o respeito pela preservação dos cursos de água e da biodiversidade, além da recuperação do solo também”, acrescentou.
Almeida deixou seu recados aos produtores sobre aliar a produtividade com o retorno financeiro e a sustentabilidade. “A mensagem é a seguinte: a pecuária, ou a agropecuária, tem que estar conectada ao meio ambiente. Essa nova demanda mundial é nossa necessidade. Já que nós vivemos do meio ambiente, nós necessitamos da natureza para produzirmos mais e melhor”, concluiu.