Três anos após o término de seu mandato, (2001-2008) o ex-prefeito de Ponte Branca, Jurani Martins, de 57 anos, rompeu seu silêncio e faz uma avaliação criteriosa de sua administração, do processo que o sucedeu e das próximas eleições no município. Filho de tradicional família da cidade, (seu avô, o carpinteiro Martiniano Pereira da Silva chegou ao município em 1905). Técnico em contabilidade e pequeno produtor rural, Jurani manteve um escritório na cidade por cerca de oito anos para depois se enveredar pelo campo político quando foi eleito vereador de único mandato de onde saiu dizendo que não falaria mais em política. Anos depois retornaria na condição de prefeito por dois mandatos. Casado com dona Maria de Souza Carvalho e pai de três filhos, a acadêmica de direito Nádia Joyce, 18 anos, Leonardo de 16 e Nadine de 15 anos. Jurani recorda os feitos de sua gestão, as melhorias que trouxe a Ponte Branca, de sua dedicação à causa pública e não esconde sua pretensão de sair candidato às eleições municipais de outubro. Confira todos os detalhes na entrevista abaixo.
A Semana: O senhor administrou Ponte Branca por dois mandatos, de 2001 a 2008. Sua gestão, se avaliada junto à comunidade é considerada como uma das melhores. Qual sua opinião a respeito?
Jurani: Olha, em 2001 quando assumimos a Prefeitura tínhamos pela frente um grande desafio, o de fazer o povo acreditar que mesmo em um município extremamente pobre as coisas poderiam acontecer. E assim fizemos, às vezes errando, mas buscando sempre o melhor. E dessa forma iniciamos e concluímos nosso mandato, deixando nosso sinal na historia do município.
A Semana: No início quais as dificuldades que você encontrou?
Jurani: Várias, mas podemos destacar duas como primordiais: conscientizar nosso grupo que tínhamos ganhado a administração e não a Prefeitura.
A Semana: Como assim?
Jurani: Sou de origem humilde, não tenho no meu ego pessoal o desejo de vingança. Tratava a todos da mesma forma, independente de suas opções políticas. Algumas pessoas que faziam parte do processo não pensavam assim e para conciliar as divergências foi muito difícil. Segundo, a falta de experiência, o medo exagerado de contrair dívidas e não poder pagar, mas dessa forma perdemos praticamente um ano de nossa gestão. A partir do segundo ano as coisas começaram acontecer.
A Semana: Houve recursos de convênios do Estado e da União no período em que esteve prefeito?
Jurani: Tivemos a felicidade de firmar vários convênios, mas nossa administração foi pautada praticamente com recursos do município. Entendia que os convênios eram importantes, mais para você mostrar sua capacidade de administrar tem que tirar leite de pedra e trabalhar com aquilo que recebe mensalmente. Convênios às vezes é sonho e sonhar só não resolve.
A Semana: Vamos dividir sua administração por setores, avalie cada um deles, començando pela saúde.
Jurani:Na saúde fizemos uma verdadeira revolução se analisarmos a época em que assumimos a Prefeitura. Primeiro montamos nossa equipe, trazendo para sua composição profissionais filhos de Ponte Branca, ou de pessoas ligadas ao município. Construímos o prédio do PSF e implantamos a equipe de saúde da família. Construímos e equipamos o Centro de Reabilitação. Reformamos o hospital e construímos lavanderia anexa ao mesmo. Conseguimos junto ao secretário de Saúde um aparelho de ultrasonografia, fizemos aquisição de equipamentos, contratamos profissionais e implantamos a saúde bucal no município. Realizamos parcerias com a Casa de Apoio em Goiânia, para onde enviamos pacientes em delicado estado de saúde. Adquirimos veículos destinados à área de saúde, fizemos uma ampla distribuição de medicamentos e atendendo principalmente as pessoas mais carentes.
Na educação nosso desafio também foi persistente. Nossa primeira medida foi a de dar condições dignas para os alunos da área rural. Parte do transporte escolar era terceirizado e nós tiramos os alunos das carrocerias de caminhões para poltronas confortais de uma Van. Ampliamos as linhas de transporte de alunos. Trouxemos para a cidade crianças do município vizinho de Doverlândia (GO). Crianças que não tinham opção de estudar. Seus pais eram trabalhadores de fazendas naquele município e como ficava distante da sede dele, nossa administração não assumiu o transporte, tivemos e sensatez com a ajuda dos pais trazermos essas crianças até à escola. Fizemos investimento na qualidade do ensino. Demos aos professores condições para que pudesse melhorar seus conhecimentos com a inclusão destes em cursos de nível superior. Fizemos plano de carreira para os profissionais da educação, realizamos concurso público no município para dar estabilidade aos servidores da área, construímos salas de aulas e contratamos nutricionista com a finalidade de melhorar a qualidade da nossa merenda escolar.
Na área social fomos referência na região, através do trabalho desenvolvido pela primeira-dama. Engajamos na luta de buscar junto ao INSS os benefícios de direito das pessoas, mas que até então faltava apoio no sentido de auxilio do poder público para chegar até eles. Através deste trabalho mais de 200 pessoas receberam o benefício girando no comércio local mais de R$ 100 mil mensais. Isso fez com que nosso comércio se fortalecesse. Auxiliamos também as pessoas com baixíssimo poder aquisitivo dando a elas cestas básicas, criamos o grupo da terceira idade, construindo local para suas atividades. Na área Social construímos ainda, através de convênio entre Prefeitura e Secretaria de Infraestrutura do Estado 40 moradias. Buscamos junto ao governo do Estado recursos para construção de mais 50 casas levantadas no Conjunto Tamboril. Deixamos no final de nossa administração um convênio e contrato assinado, já com licitação pronta e dinheiro na conta para construção de mais 50 casas no Conjunto Martin Arcanjo. De forma que a área social em nossa administração foi tratada com respeito e merecida dignidade.
A secretaria de Transporte foi um dos gargalos de nossa administração. Maquinários velhos, estradas abandonadas. Não tínhamos recursos para aquisição de novos veículos ou máquinas. Mesmo assim tentamos fazer o melhor, construímos mata-burros nas estradas vicinais para facilitar o transporte escolar, reformamos pontes e passamos nossos veículos e máquinas, mesmo com dificuldade de locomoção, em todas as estradas do município colocando cascalho nos pontos mais críticos, inclusive na MT-l00 dentro do território do nosso município.
Na secretaria de Obras: Olha, fizemos muito nesta área. Eu fui o prefeito que mais calçou ruas. Fizemos praças com recursos próprios, concluímos e o prédio da Biblioteca Municipal, Casa do Conselho Tutelar, trevo da cidade com a imagem do Cristo Redentor, asfalto do trevo até a Avenida Coronel Belmiro Nogueira, arquibancada na quadra de areia e cobertura da arquibancada do campo de futebol soçaite.
A Semana: Como o senhor avalia a participação de seus secretários e colaboradores naquela sua administração?
Jurani: Todos tiveram papel importantíssimo em nossa administração. Não fui centralizador de poder. Fazíamos reuniões, traçávamos as metas e deixava cada um executar suas ações. Evidente que ficávamos atentos quanto o andamento dos trabalhos e os valores gastos. Outra coisa que julgo importante em minha administração foi o exercício de saber ouvir as pessoas. Muitas vezes pensava fazer algo de uma forma e acabava fazendo diferente e melhor pelo fato de aceitar a opinião dos companheiros.
A Semana: E o relacionamento com a Câmara de Vereadores, como foi?
Jurani: Ótimo. Tratava todos com respeito e isso era recíproco por parte deles. Fizemos excelente parceria, cuidando para que possíveis divergências não influenciassem na administração.
A Semana: Agora gostaríamos que o senhor falasse de duas questões não populares em sua administração. A primeira são os funcionários da gestão anterior que ficaram sem receber e o senhor não pagou. A segunda, há informação que o senhor fez parcelamento de dívida junto ao Estado quando da sessão do sistema de abastecimento de água e também não pagou as parcelas.
Jurani: Ótimo. Quanto aos servidores, em momento algum deixei de reconhecer a dívida, chegamos até participar de uma reunião na Câmara convidado pelos os vereadores, onde se encontrava presente quase a todos os servidores com crédito junto ao município. Naquela reunião ficou combinado que nós iríamos dispor da quantia mensal de R$ 10 mil até liquidar integralmente a dívida. Ficou também acordado que os servidores iriam montar uma comissão para definir o critério de pagamento, ou seja, quem teria prioridade em receber primeiro. Acontece que neste período três servidores buscaram a justiça para receber. Assim sendo nós também procuramos recorremos à justiça não para negar a dívida, mas para discutir de quem era a competência de pagamento, uma vez que a Lei 101/2000 diz que nenhum gestor pode deixar dívida no final de sua administração se não houver igual valor disponível em caixa. Dessa forma o acordo foi suspenso e após um determinado tempo a justiça decidiu que a dívida e a obrigatoriedade de pagamento era responsabilidade do município, fato que só aconteceu após o final do meu mandato. Quanto ao parcelamento da dívida junto ao Estado não houve! Fiquei sabendo por amigos, de uma reunião que atual prefeita [Jaquelina Soares Pires] fez com seus assessores e mostrou a eles papéis com minha assinatura e do então governador da época Dante de Oliveira, dizendo que se tratava deste parcelamento a que você se refere. Digo de modo categórico: em momento algum fizemos isso, fui oficializado pela equipe de liquidação da extinta Sanemat onde participei de reuniões com meu assessor jurídico, o advogado Laudemi, para que nós assinássemos confissão de dívida no valor R$ 90 mil do município junto àquele órgão. Nós recusamos a proposta de imediato. Alegamos, no momento que só reconhecíamos a dívida após uma auditoria para saber sua verdadeira origem e também fazer compensação de possíveis débitos, caso houvesse, pois o município ha três anos vinha fornecendo água aos órgãos do Estado sem nada receber em troca. Então, como pode ver, essa informação é irreal.
A Semana: O senhor era amigo dos funcionários?
Jurani: Sim. Eu tinha na minha equipe de trabalho, uma família. Tratava a todos com respeito independentemente da função que ocupasse. Às vezes era taxado como uma pessoa de mal humorada, o que não é real. Isso se for defeito trago de berço, é meu jeito de ser. A verdade é que não tenho maldade no coração e raramente tive coragem de dizer não a alguém.
A Semana: Agora gostaríamos que o senhor falasse da atual administração. A partir de seu ponto de vista que análise faria?
Jurani: Olha, eu gostaria de não dizer nada a este respeito, até porque tudo que disser parece tendencioso pelo fato de ter sido prefeito no município.
A Semana: Como assim? A prefeita foi eleita no processo sucessório de seu grupo político?
Jurani: Por isso mesmo. Trabalhamos muito no sentido de equacionar nossos amigos em torno de sua candidatura. Havia resistência pela unanimidade em torno de seu nome.
A Semana: Houve compromisso entre vocês?Eles foram cumpridos?
Jurani: Olha, houve algo relacionado a trabalho, envolvendo pessoas ligadas diretamente a mim e que não foram cumpridos. Quanto a mim não houve compromisso nenhum.
A Semana: O senhor se sente traído?
Jurani: Não sei se a palavra seria essa. Talvez me sinta desprestigiado, rejeitado, sei lá. Nunca imaginei ser uma pessoa trabalhando ao seu lado. Por mais de sete anos, exercendo cargo importantíssimo na equipe, já visando para o futuro uma possibilidade de candidatura, não esperava que fosse eu, a ser excluído de seu grupo e tachado como persona non grata a sua administração.
A Semana: São inimigos?
Jurani: Não, de maneira nenhuma. Pelo menos de minha parte. Não costumo misturar as coisas. Vejo tudo isso como política, talvez diferenças de idéias que faz com que isso aconteça.
A Semana: E as eleições deste ano? Quais as expectativas? O senhor é candidato a prefeito?
Jurani: O nosso partido faz parte da atual administração. Temos um Secretário, dois vereadores, e o vice-prefeito. Porém nós temos representando o município através do partido, o deputado estadual, Baiano Filho, deputado federal Carlos Bezerra e o governador Sinval Barbosa, todos do PMDB, sigla a que somos filiados. O partido já disse que teremos candidatura própria no município. Nós teremos que primeiro resolver questões internas dentro do partido no município. Uma coisa é certa, não haverá briga. Nossos entendimentos são no sentido de fazer uma avaliação popular através de pesquisa entre os nomes que se disporem a ser candidato. Feito isso, vamos trabalhar no sentido de ampliar coligações, trazendo para junto de nós pessoas e partidos que comunguem conosco dos mesmos ideais. Respondendo a sua pergunta, dentro dessa metodologia que se expõe serei pré- candidato sim, colocando meu nome a disposição do partido e de nossa comunidade.
A Semana: Para terminar, o que o senhor diria ao povo de Ponte Branca neste início de 2012?
Jurani: Primeiro gostaria de agradecer a oportunidade de poder esclarecer fatos que muitos não tinham conhecimento. Quanto ao nosso povo quero desejar a todos um 2012 de muita saúde, paz, felicidade e Cristo no coração. Nós, os políticos, tenhamos a sabedoria para deixar de lado nossas vaidades pessoais fora do processo sucessório e que deixemos nossa comunidade escolher o que ela ache melhor para administrar nos próximos anos o destino de Ponte Branca.