A escola pública é um reflexo do Brasil real. Nela se encontram rostos de todas as cores, vozes com diferentes sotaques, histórias que se entrelaçam com a força de quem resiste. Crianças e adolescentes que carregam em si um mundo inteiro de culturas, vivências, sonhos e feridas. Nesse espaço tão diverso, é urgente criar pontes. E poucas coisas constroem pontes tão fortes quanto a arte.
Mais do que uma disciplina, as artes visuais podem ser um território de acolhimento e pertencimento. Ao desenhar, pintar, colar, criar, os alunos têm a chance de se ver. E, talvez pela primeira vez, serem vistos de verdade. A arte permite isso — ela dá forma ao invisível, corpo ao que sentimos e voz ao que, muitas vezes, não conseguimos dizer com palavras.
Quando a escola valoriza as múltiplas culturas presentes em sua comunidade, ela deixa de ser um lugar apenas de transmissão de conteúdos e passa a ser um espaço de reconhecimento. E o reconhecimento transforma. Faz com que cada estudante sinta que seu jeito de ser, sua história e sua identidade importam. Isso é inclusão de verdade: quando ninguém precisa se esconder para pertencer.
Trabalhar com artes visuais é também abrir caminho para conversas que se transformam. Por meio de uma obra, podemos falar sobre racismo, machismo, exclusão e preconceito. Mas também sobre amor, ancestralidade, resistência, coragem. A arte ensina o respeito ao outro porque nos mostra que há muitos jeitos de ver, sentir e existir no mundo — e todos eles são válidos.
Para isso, claro, é preciso que os professores sejam também acolhidos, valorizados e formados para olhar com sensibilidade para cada um de seus alunos. É preciso tempo, espaço e afeto. É preciso políticas que levem a arte a sério. Porque onde há arte, há humanidade. E a escola precisa ser, acima de tudo, um lugar humano.
Se quisermos um futuro mais justo, ele começa agora, nas salas de aula. Nas mãos que seguram pincéis, nas paredes coloridas com identidade, nos olhares que se encontram por meio de uma criação coletiva. A arte nos lembra que somos diferentes, sim — e que isso é, na verdade, o que temos de mais bonito em comum.
Jéssica Lima é graduada em Artes Visuais e atua como professora de arte, com ênfase em pintura em tela e mural. Com ampla experiência no ensino e na prática artística, dedica-se a inspirar seus alunos a explorarem a criatividade e a transformarem espaços por meio da arte.
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Este artigo de opinião representa a visão do autor e não necessariamente a opinião do Semana7.