'Cenário Montado', gravação e constrangimentos em Barra do Garças

Durante sessão, vereadora Bianca Freitas comentou sobre operação policial na cidade; relato rendeu troca de farpas com gestão

Reprodução

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Da Redação

A semana em Barra do Garças poderia ter começado conforme as previsões climáticas, com uma temperatura amena típico desta época do ano, ser não fosse pelo calor da sessão legislativa ocorrida na sessão da noite de segunda-feira (26) na Câmara Municipal. O principal destaque ficou para o relato da vereadora Bianca Freitas (MDB), sobre a operação ‘Cenário Montado’ da Polícia Civil que, entre elogios sobrou algumas farpas indiretas à gestão do prefeito Adilson Gonçalves (União Brasil).

Do alto da tribuna a vereadora disse que um dos investigados seria um ex-secretário da gestão de Adilson e que, somente deste, teria sido bloqueado nada menos que 21 milhões de reais resultantes de possíveis fraudes em licitações que, segundo Bianca, daria para sanear a folha de pagamento de médicos em atraso.

No dia seguinte (27), Adilson Gonçalves emitiu uma nota onde esclarece que sua gestão não é citada na investigação em nenhum momento e que o valor de 21 milhões “foi posto sob constrição judicial [bloqueio] de todos os investigados” da operação policial.

Depois dessa nota a vereadora gravou um novo vídeo alegando que ela não teria citado a prefeitura em nenhum momento, embora muitos que tenham visto sua mensagem possam entender que o valor bloqueado teria saído dos cofres da prefeitura. Fatos estes que poderão ser discutidos na Justiça.

Voltando à temperatura máxima, Bianca Freitas publicou nas redes social a gravação de uma reunião ocorrida em 28 de abril, com o prefeito, secretários e vereadores. A tal gravação, feita às escondidas, porque sem autorização dos presentes, fere frontalmente o Artigo153 do Código Penal e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

À reportagem, o presidente da Câmara Municipal, Alex Matos (Podemos), que agendou a reunião disse seus colegas de Parlamento “ficaram constrangidos" diante da atitude nada republicana da vereadora Bianca Freitas.

Sobre a gravação sem autorização, o prefeito Adilson disse ter achado “estranho o comportamento de Bianca que, ao que parece, tenha sido feita para prejudicar a nossa gestão”, avalia. No que diz respeito à operação Cenário Montado, na versão da vereadora a “Justiça deve esclarecer”. (Veja nota na íntegra no final da matéria)

VERSÃO DE BIANCA

Essa reunião institucional convocada pela Câmara Municipal, na versão da vereadora, teve como objetivo avaliar os 100 dias da gestão do prefeito Adilson Gonçalves. Supõe-se que nenhum de seus participantes apostassem na polêmica que resultaria, até porque não sabiam que estavam sendo gravados pela vereadora Bianca Freitas.

Por mensagem de WhatsApp à redação deste portal de notícias, ela diz que a divulgação ocorreu porque “tinham se passado 100 dias da gestão e não tinha nenhuma divulgação do que havia sido feito ou avançado. [A gravação] não teve nenhum caráter sigiloso por parte dos participantes, nem haveria motivo para isso. Foi uma reunião institucional, tratando de temas públicos como orçamento e a apresentação dos supostos feitos dos 100 primeiros dias de gestão do Dr. Adilson e do time de secretários. Então, não vi nenhum problema em gravar assim como faço sempre”, disse.

A vereadora acrescenta ainda que a gravação, feita sem aviso prévio aos presentes, foi publicada com a justificativa de garantir transparência e permitir que a população tivesse acesso ao conteúdo real da conversa. Segundo Bianca, o objetivo foi confrontar informações divulgadas pela comunicação oficial da Prefeitura, que ela afirma deturparem suas falas e atitudes.

Bianca critica o que chama de “narrativas forçadas” por parte do Executivo municipal, ressaltando que seu compromisso é com a população e que o registro da reunião contribui para um debate mais transparente sobre a gestão pública. Ela também diz que essa não foi a primeira vez que a Prefeitura divulgou notas públicas contestando suas ações e declarações.

Nota:

Meus amigos e amigas,

Quero reforçar que a Gestão Dr. Adilson Gonçalves e Professor Sivirino Souza NÃO é investigada na operação Cenário Montado, deflagrada pela Polícia Civil, com o apoio do Gaeco, no dia 14 de março de 2025.

Na noite desta segunda-feira (26), tomei conhecimento de que a vereadora Bianca Freitas utilizou a tribuna da Câmara Municipal de Barra do Garças para comentar sobre a citada operação. A fala da parlamentar, no entanto, inclui entendimentos equivocados, informações que deveriam estar sob sigilo de justiça e uma tentativa de induzir a população a relacionar as irregularidades investigadas à atual gestão municipal de Barra do Garças.

A Polícia Civil, com o apoio do Gaeco, está investigando um grupo criminoso suspeito de usar empresas do setor de produção e shows para fraudar processos licitatórios, em municípios da região. A nossa gestão não é citada nas investigações em nenhum momento.

O valor de R$ 21 milhões que a vereadora diz corresponder a bens sequestrados de um ex-secretário da nossa gestão, na verdade, diz respeito ao montante que foi posto sob constrição judicial. Ou seja, são bens dos investigados, que estão sendo apreendidos e sequestrados, para ressarcir possíveis prejuízos ao patrimônio público.

A vereadora não pode afirmar que tais bens pertençam a um único investigado. Na verdade, a identidade dos investigados ainda não foi divulgada oficialmente pelas autoridades policiais, estando protegida por sigilo de justiça.

Bianca também não deve acreditar que o valor sob constrição judicial tenha sido desviado dos cofres públicos de Barra do Garças, como sugere ao dizer que o montante pagaria despesas da Saúde. O valor corresponde a todos os processos fraudulentos investigados pela operação, em diversos municípios.

A vereadora Bianca vem repetidamente usando seu espaço como representante do legislativo e sua visibilidade nas redes sociais para proferir ofensas e acusações sem provas, ultrapassando os limites da atividade parlamentar.

Críticas à gestão são cabíveis e nós estamos dispostos a discuti-las. Mas eu repudio o uso da tribuna da Câmara para o deferimento de ataques pessoais, políticos e para a tentativa de manchar a minha imagem.

Em mais de 30 anos de vida pública, não tenho processos políticos ou administrativos em meu nome. Em quatro anos como prefeito sempre honrei a confiança que o povo depositou em mim, governando com honestidade e respeito ao patrimônio público.