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CIDADES Segunda-feira, 03 de Fevereiro de 2025, 11:03 - A | A

03 de Fevereiro de 2025, 11h:03 - A | A

CIDADES / pesquisa científica

‘Qual Rio Araguaia queremos em 2030?’, questionam coordenadores da maior expedição científica já realizada no Araguaia

Há muito a conhecer sobre o Rio Araguaia. O “Araguaia vivo 2030” busca garantir que recursos naturais sejam compreendidos e usados de forma adequada pelas próximas gerações

Jornal Opção



O rio Araguaia e seus afluentes formam, junto com o Tocantins, a principal bacia hidrográfica do Centro-Oeste brasileiro. Um dos grandes desafios da Humanidade para as próximas décadas é conservar e usar de forma sustentável os recursos hídricos, que têm sido ameaçados por intervenções humanas — desde o uso indiscriminado da água e a poluição dos rios e lagos, até eventos em escala global que causam mudanças na temperatura e precipitação, perturbando o regime hidrológico. Com isso em mente, há alguns anos o nosso grupo de pesquisa começou uma reflexão a partir da seguinte pergunta: qual o rio Araguaia queremos ver em 2030?

Desde desde 2022, o programa do Araguaia Vivo 2030 realiza grandes expedições para coleta de dados ambientais e de biodiversidade aquática na região do médio Araguaia, conforme já havíamos divulgado aqui no Jornal Opção. Neste ano, ao longo de todo o mês de fevereiro de 2025, acontecerá mais uma expedição no contexto do programa Araguaia Vivo 2030 (acompanhe em tempo real em @araguaiavivo). A expedição de 2025 apresenta objetivos ambiciosos, tanto em termos de quantidade de amostras quanto de cobertura, considerando o número de grupos biológicos da biodiversidade do Cerrado que serão estudados, além dos parâmetros da qualidade da água e ambientais avaliados, sendo considerada a maior expedição científica já realizada no rio Araguaia.

Financiamento e realização

O programa Araguaia Vivo 2030 nasceu de uma parceria estabelecida entre a “Aliança Tropical de Pesquisa da Água” (“Tropical Water Research Alliance”, a TWRA) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG). O programa emergiu quando o então presidente da FAPEG à época, Robson Vieira, articulou os pesquisadores a partir de uma apresentação pela TWRA do projeto “Desenvolvimento Sustentável e Conservação da Biodiversidade da Bacia Hidrográfica do Tocantins-Araguaia” (2021-2023), desenvolvido dentro do programa “Aguas Brasileiras” do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MDR), com financiamento do Banco Itaú, no Conselho Nacional das Fundações Nacionais de Amparo à Pesquisa (o CONFAP). Isso permitiu a integração com diversas outras iniciativas e projetos anteriores que vinham sendo desenvolvidos pelos grupos de pesquisa de diferentes instituições de ensino e pesquisa e organizações sociais da região Centro-Oeste, associados por exemplo ao Instituto Nacional de Ciência & Tecnologia (INCT) em “Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade” (EECBio), também financiado pela FAPEG e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Desta vez também contaremos com a equipe de pesquisadores e os recursos adicionais que foram captados de um outro grande projeto que está sendo executado pela PUC Goiás e financiado pelo CNPq, por meio do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), intitulado PPBio Araguaia (@ppbioaraguaia).

A expedição
Durante praticamente todo o mês de fevereiro de 2025, a equipe formada por 27 pesquisadores, incluindo professores da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade de Brasília (UnB), Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e da UniEvangélica, pesquisadores associados ao programa e alunos de pós-graduação. Contará também com 10 tripulantes, que percorrer um percurso de aproximadamente 3500 km no médio Araguaia e em seus principais afluentes, incluindo o Rio Vermelho, Água Limpa, Rio de Peixe, Rio Crixás, Rio Cristalino e Rio das Mortes, realizando algumas coletas ao longo do percurso e caracterizando de forma detalhada cerca de 150 lagos conectados aos rios, situados na planície de inundação, nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará.

Em cada ponto de coleta serão obtidas informações sobre a biodiversidade e sobre características ambientais e da água. Inicialmente, como esta nova expedição também conta com recursos do Programa PPBio do CNPq, que tem como objetivo geral realizar inventários e levantamentos da biodiversidade, estabeleceu-se uma ampliação dos grupos biológicos a serem estudados. Em 2025 serão analisados os padrões de vegetação ao longo rio, e coletadas amostras de zooplancton e fitoplancton (animais e plantas microscópicos que habitam a coluna d’água e que são importantes indicadores de qualidade ambiental), peixes, insetos, plantas aquáticas (macrófitas), plantas terrestres e observação de botos e aves. Pretende-se também realizar um censo das populações de boto e o registro das espécies de aves observadas na região. Amostras de água serão obtidas e permitirão a análise da concentração de mercúrio e a bioacumulação nas macrófitas aquáticas, da concentração de agrotóxicos, metais pesados e diversos parâmetros físico-químicos da água.

Dada a quantidade de dados obtidos, é importante ressaltar que o trabalho da equipe na realidade não se encerra ao final da expedição, muito pelo contrário. É preciso levar todo esse material para o laboratório, analisar todos os dados, processar amostras e identificar as espécies, depositar em coleções científicas e depois disso é preciso realizar uma série de análises para identificar os padrões, entender os processos ecológicos e a dinâmica do rio. A partir de todos esses dados é possível calcular diversos índices que podem ajudar a definir, por exemplo, a “saúde do rio”. No mapa abaixo é possível visualizar os padrões gerais desse índice, calculado a partir dos dados ambientais e biológicos coletados na expedição de 2022 do projeto do MDR da TWRA.

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