Na caminhada terrena, somos constantemente testados pelas reações alheias. Há dias em que oferecemos carinho e somos recebidos com o peso da ausência. Outras vezes, entregamos respeito e colhemos apenas a frieza da indiferença. Esses momentos podem nos ferir, frustrar e até nos fazer duvidar do valor da nossa bondade. É natural sentir o impacto da ingratidão, mas é justamente aí que reside uma das maiores lições da vida espiritual: o bem que fazemos é um reflexo do que somos, não uma moeda de troca.
Chico Xavier nos deixou um ensinamento profundo: “a plantação é livre, mas a colheita é obrigatória.” Ou seja, tudo aquilo que lançamos no mundo — sentimentos, gestos, atitudes — um dia retorna a nós, de uma forma ou de outra. Por isso, insistir no bem não é ingenuidade; é sabedoria. É compreender que a verdadeira colheita é interna, e não necessariamente visível ou imediata.
Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos convida a olhar para dentro. O verdadeiro espírita, diz ele, é aquele que busca a transformação moral e o esforço constante para vencer suas más inclinações. Nesse caminho, ser luz diante das sombras alheias não é apenas um desafio — é um compromisso com a própria evolução espiritual.
Emmanuel, mentor espiritual de Chico, certa vez nos lembrou que “a caridade começa no silêncio com que escutamos as imperfeições do outro, sem que isso roube a paz do nosso coração.” Esse ensinamento revela o poder da serenidade diante do desrespeito, da compreensão diante da crítica, da firmeza amorosa diante da ingratidão.
Não somos definidos pelo que o outro faz conosco, mas pelo que escolhemos devolver ao mundo. Afeto, paciência, compreensão, serviço, perdão — tudo isso fala mais sobre a alma que estamos cultivando do que sobre a resposta que esperamos receber. Pense na gentileza diante de uma resposta ríspida, na paciência em meio ao caos ou no serviço desinteressado a quem talvez nunca possa retribuir. Ser bom em um mundo que nem sempre retribui é um ato de coragem espiritual. É confiar que o bem, ainda que não aplaudido, nunca é em vão.
Ser luz é uma escolha diária, muitas vezes solitária e imperfeita, mas sempre valiosa. É um processo contínuo de construção interna, onde cada gesto positivo é um tijolo na edificação de uma alma mais consciente e generosa. Portanto, continue entregando o seu melhor, mesmo quando o mundo parecer indiferente. Porque quem semeia amor onde há aridez não está apenas tocando outras vidas — está também curando a própria alma, iluminando seus próprios caminhos e contribuindo, em silêncio, para um mundo mais justo, mais sensível e mais fraterno.
Porque enquanto muitos reagem ao mundo, o espírito desperto escolhe transformá-lo — começando por si mesmo. Então reflita sobre isso!
*Soraya Medeiros é jornalista com mais de 23 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. É formada em Gastronomia e certificada como sommelier.