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GERAL & ECONOMIA Quarta-feira, 09 de Outubro de 2019, 17:02 - A | A

09 de Outubro de 2019, 17h:02 - A | A

GERAL & ECONOMIA / Sistema prisional

Fragmentos da história da Cadeia de Barra do Garças mostram o esforço da unidade em se aperfeiçoar

Para que a cadeia prestasse o serviço que hoje presta, foram necessárias, há alguns anos, mudanças na reestruturação física e profissional da unidade

Kayc Alves
Da redação



Enquanto as engrenagens do quadrilátero central de Barra do Garças funcionam a todo vapor, no meio do núcleo comercial do município, 270 reclusos cumprem suas penas ou aguardam julgamento na Cadeia Pública. A área ao lado da Delegacia de Polícia abriga os reeducandos em seis alas, dividindo o espaço com os 70 servidores da unidade que ali trabalham. Marcados por um estigma dificilmente ignorado pelos que estão do lado de fora, os presos aproveitam o tempo lá dentro cada um a seu modo, enquanto a liberdade não vem.    

Engana-se quem acha que preso só come e dorme à custa do governo. O diretor da Cadeia Pública de Barra do Garças, Maicon Brasil, gosta de esclarecer que o sistema quer a reinclusão do detento na vida social, após o cumprimento da pena. Por isso, a cadeia trabalha para atender esses reeducandos com educação de qualidade e uma diversidade de projetos, como cursos e ocupações profissionais.    

Mas tudo depende deles, os 150 condenados e 120 presos provisórios, vivendo uma rotina limitada, mas que pode ser proveitosa até para a formação profissional.    

A unidade tem escola própria, hoje com 40 alunos recebendo o ensino básico (fundamental e médio), e oferta uma diversidade de atividades. O Senai/Senac e o Instituto Universal Brasileiro são alguns dos parceiros que já levaram cursos como o de pintura, eletricista, assentador de cerâmica, montagem e desmontagem de computador.    

As palestras também são frequentes, sobre temas como ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e, mais recente, Setembro Amarelo, sobre prevenção ao suicídio.    

Além de distanciar os detentos do crime, a maioria dessas atividades reflete em remissão de pena. Em entrevista ao Semana7 Maicon afirma que essas ações têm impacto direto no índice de reincidência.    

“O preso que quer, distrai por 24 horas a cabeça dele e não tem tempo para o crime. Agora se o cara quiser entrar aqui um ladrão de galinha e sair um assaltante de banco, isso aí com certeza não vai ser eu, não vai ser a sociedade, não vai ser ninguém que vai influenciar a cabeça dele.”    

Semana7

Diretor do presídio

Maicon Brasil, diretor da Cadeia Pública de Barra do Garças

Uma das atividades que se destacam é o curso de corte, costura e serigrafia. Com o passar do tempo, os alunos se profissionalizam na área, passando a serem remunerados pelos trabalhos que a sociedade contrata.    

Outro projeto que chama a atenção na Cadeia Pública de Barra do Garças é o grupo de detentos que trabalham como pedreiros e serventes. Estes também são contratados para a realização de reformas e construções, sobretudo, em obras públicas no município e na região.    

Mas para que a cadeia prestasse o serviço que hoje presta, foram necessárias, há alguns anos, mudanças que iniciaram com a reestruturação da unidade. “Nosso prédio, hoje em dia, é um prédio muito seguro, oferecendo segurança para o servidor e para o preso”, destaca o diretor.    

Essas transformações começaram, como precisa o diretor Maicon, por volta de 2008. Na época, ele completava o seu segundo ano trabalhando como agente prisional na unidade, que além da superlotação, possuía uma série de problemas estruturais.    

Com a reforma na cadeia, as quatro alas viraram seis, com um total de 17 celas. As alas ainda foram isoladas para que os presos tivessem o mínimo de contato possível entre eles.    

“Quanto menos presos em uma ala, mais fácil de dominar. Ou seja, se eles tentarem um motim ou tentarem se rebelar, com menos presos fica mais fácil de tomar conta da situação novamente.”    

A expansão da estrutura da cadeia, com a construção de novos compartimentos, nesse período, possibilitou áreas para as atividades, que hoje “entretêm” os presos, ajudando na reinclusão social. Mas a repaginada no prédio da cadeia não seria suficiente sem a aplicação de uma disciplina rigorosa dentro da unidade.    

A gente transitava em meio aos presos, ou seja, a gente não possuía armamento, não possuía cursos especializados

Paralela às modificações na estrutura física, também houve preparação dos agentes penitenciários. Sem qualquer formação na área de segurança pública, esses profissionais ficavam “nas mãos dos detentos”.    

“A gente transitava em meio aos presos, ou seja, a gente não possuía armamento, não possuía cursos especializados e os presos praticamente dominavam a cadeia. Eles escolhiam o horário de banho de sol deles e, para que pudessem retornar a sela, a gente tinha que estar implorando para eles.”    

De acordo com Maicon, os agentes começaram a buscar por cursos do SOE (Setor de Operações Especial), do GIR (Grupo de Intervenção Rápida) e de outras intervenções a nível estadual. Com isso, a especialização dos profissionais da unidade cresceu de forma exponencial. “Hoje já fazemos parte até do quadro da Força Nacional Penitenciária.”    

As armas não letais e pouco letais hoje compõem o traje do corpo de servidores, preparados para o combate direto em qualquer adversidade. Além do melhor controle sobre os presos, o armamento dos agentes descartou os serviços da Polícia Militar da cadeia.    

“Se a gente precisasse fazer alguma escolta, ir ao médico, ao dentista, fazer alguma coisa fora da cadeia, a gente tinha que pedir apoio da PM. Hoje a gente pode dizer que não precisa da Polícia Militar para nada. Salvo algum confronto esterno, que a gente precise de alguma apoio”, explica Maicon.    

Mesmo com as melhorias, a cadeia ainda sofre com a superlotação e não tem mais para onde crescer. Para o diretor da unidade, em Barra do Garças caberia um CDP (Centro de Detenção Provisória). O Semana7, inicia uma série de reportagens sobre a Cadeia Pública de Barra do Garças e adianta que dará mais detalhes a respeito das atividades de reinclusão desenvolvidas na unidade.

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