G1 MT
No norte do estado, 240 famílias de pequenos produtores rurais que vivem em uma região de conflito agrário denunciam violência de fazendeiros que invadiram suas terras em assentamento de 115 mil hectares em Itanhangá. Eles cobram ação das autoridades e relatam que estão sob constante ameaça de morte por parte de pistoleiros a mando dos latifundiários. As famílias vivem atualmente em acampamentos e aguardam reintegração de posse.
O G1 aguarda um posicionamento do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Atualmente, segundo a denúncia, as famílias da Associação dos Pequenos Produtores Rurais Planalto (Assoplan) estão com os lotes sob o controle de cerca de 80 fazendeiros. Esta semana ele apresentou denúncia na Secretaria Estadual de Assistência Social e Cidadania (Setasc) e na Procuradoria Geral de Cuiabá.
A Setasc afirmou que equipes irão na região nos próximos dias para avaliar a situação dos assentados e ver com as autoridades locais quais medidas foram tomadas.
O Acampamento Nova Aliança, representada pela Assoplan, teve origem após 14 famílias que foram assentadas pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 2004, em Juara, serem despejadas em 2011.
No entanto, o acampamento, que começou com as 14 famílias, foi crescendo após vários assentados perderem seus lotes ilegalmente e sofrerem ameaças de grandes latifundiários.
Os lotes do assentamento, com 115 mil hectares, foram destinados do governo federal por meio do Incra, em 1997, para assentar famílias de trabalhadores rurais em uma das áreas mais estratégicas para a agricultura, na Amazônia Legal.
Por se tratar de terras planas, de forte potencial para cultivo de soja e do milho, muitos lotes foram adquiridos ilegalmente de famílias de assentados e incorporados às grandes fazendas de soja.
Segundo Fábio Bento Machado, presidente da Assoplan, dos 1.149 lotes de 100 hectares cada, hoje apenas 30 estariam cumprindo a finalidade inicial do Incra.
De acordo com a denúncia, no processo da invasão os latifundiários destruíram escola, posto de saúde, barracão da associação e até a igreja. As casas construídas com recursos do Incra tiveram que ser abandonadas pelas famílias, com medo das ameaças.
A entidade pede a reintegração desses lotes e o cumprimento da finalidade da terra destinada à reforma agrária.
Segundo Fábio, as ameaças sofridas também atingem os assentados legalmente. Alguns proprietários são constantemente ameaçados de serem retirados à força dos seus lotes.
Nesta semana, o acampado José Martins de Oliveira, membro do Conselho Fiscal da Associação dos Pequenos Produtores Rurais Planalto (Assoplan), ficou ferido após sofrer tentativa de atropelamento. Além disso, o suspeito fez disparos de arma de fogo contra a moto em que José estava.
"Em agosto de 2018 nosso acampamento foi alvo de pistoleiros, que supostamente a mando de fazendeiros efetuaram vários disparos de arma de fogo de grosso calibre, tiros acertaram nossa placa que indicava nossa horta comunitária", conta.
Fábio também fala sobre as condições precárias em que os acampados estão, aguardando por uma resposta das autoridades competentes.
" Nossas famílias estão esgotadas de ficarem parecendo debaixo de barracos de lona, sem dignidade alguma, vivendo em total descaso, onde homens, mulheres, crianças e idosos querem apenas que a justiça seja feita realmente dentro da constituição federal e que a regularização fundiária seja prevalecida dentro deste projeto de assentamento", afirma.
Operação Terra Prometida
Em 2014, servidores do Incra, sindicalistas, políticos e empresários do agronegócio foram presos pela Polícia Federal suspeitos de transação ilegal das terras da União destinadas à reforma agrária em Itanhangá.
A operação 'Terra Prometida' culminou na prisão de 39 suspeitos, entre sindicalistas, servidores do Incra, políticos e fazendeiros. Uma 'organização criminosa' que se instalou ali, segundo relatório da PF.
Dentre os presos à época estavam três sindicalistas por indicarem nomes de pequenos para serem laranjas de fazendeiros. Três servidores do Incra acusados de facilitar documentos de transferências além do então prefeito Marino Franz, da cidade Lucas do Rio Verde e vereadores da região.
Segundo Fábio, primeiro chega um fazendeiro 'laranja' com oferta financeira e em seguida chegam pistoleiros ameaçando os acampados.
Passados seis anos, o conflito entre fazendeiros da região e trabalhadores assentados ou acampados continuam.