G1 MT
O Sindicato dos Servidores Federais da Educação (Sinasefe) fez uma denúncia à reitoria do Insitituto Federal de Mato Grosso (IFMT) e ao Ministério Público Federal (MPF) de discurso racista durante uma reunião virtual de orientações sobre a colação de grau para os alunos do curso superior de Tecnologia e Gestão Ambiental e bacharelado em Engenharia de Alimentos, em Cuiabá.
Segundo o sindicato, a reunião virtual contava com a presença dos alunos e das alunas dos cursos, além de duas técnicas e o professor James Moraes de Moura como membros da comissão de colação de grau.
Ao G1, o professor pediu que a assessoria de comunicação do IFMT fosse contatada. O IFMT informou por meio de nota que aguarda o recebimento dos processos e dará os prosseguimentos administrativos cabíveis de acordo com as normas internas da instituição.
O vídeo estava disponibilizado no canal do YouTube, mas foi retirado do público permanecendo no privado.
No documento enviado e protocolado, o sindicato afirma que a fala do professor é uma tentativa de embranquecimento da parcela dos estudantes para que se enquadre num espaço de brancos.
“É inadmissível também a tentativa de só permitir a participação de alunos negros caso eles deixassem de lado seus adereços e adornos, os seja, aquilo que simboliza sua luta, sua cultura e sua resistência. Usam esse tipo de estratégia sutil para dizer que lugar de sucesso, conquista e realização não é lugar de negros, para quem usa turbante e dreads', diz um trecho do documento.
Segundo o a servidora Gabriela Borges, que faz parte da comissão de colação de grau, no vídeo, ao falar do enquadramento dos alunos e das alunas na transmissão da colação de grau, o professor James fez referência negativa ao uso de turbante, dread e cita 'cabelo armado'.
“Nos cabelos faz um penteado, sem problemas. Mas ai você espeta um monte de coisa ai fica aquela coisa exagerada. O cabelo deve valorizar o rosto para não comprometer a imagem”, é uma das falas do professor, segundo a denúncia.
O professor também fala, durante a reunião, que um turbante ficaria uma coisa desproporcional, e que sabe que alguns jovens usam 'cabelo armado e dreads', mas que deveriam se enquadrar para não comprometerem a imagem a ser transmitida.
Ainda segundo o Sinafese, o professor finalizou as orientações dizendo que qualquer descumprimento com relação ao padrão em especial dos formando, a comissão organizadora impediia a participação no ato.
A participação na solenidade é obrigatória para concluir o curso.
Para o movimento negro, o uso de turbante e dreads é uma questão de afirmação cultural, símbolos de resistência do povo negro.
"Os dreads possuem ligação direta com a África e a luta do negro em busca da afirmação de sua cultura negra".
Gabriela encaminhou, na mesma noite, um email para a direção do Campus Bela Vista. No documento, ela solicita providências da instituição no combate ao racismo institucional e pede que sejam revisadas todas as orientações do processo de colação de grau com o devido cuidado.
Segundo a fundadora do Instituto Mulheres Negras (IMUNE) de Mato Grosso, Antonieta Luisa Costa, a atitude do professor é contra a luta do povo negro.
"Infelizmente a estrutura racista que vivemos tem ganho força nesses últimos anos", diz.
Para o movimento negro o preconceito contra os dreads e os turbantes tomaram formas especificas.
"O racismo tem como um dos seus aspectos fortes a desqualificação indireta do negro, que não fala especificamente do individuo negro, mas ataca todos aqueles elementos que compõem sua vida e sua cultura", afirma.