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CIDADES Segunda-feira, 17 de Julho de 2023, 15:05 - A | A

17 de Julho de 2023, 15h:05 - A | A

CIDADES / quarto crescente

Praia de Aragarças encolheu: saiba as causas da redução da faixa de areia

Semana7 ouviu professores doutores em Geografia e também Geociências e Meio Ambiente sobre o assunto

Mayara Correia*
Da Redação



A temporada de praia na região do Araguaia atrai anualmente milhares de pessoas para as cidades banhadas pelo rio que leva o mesmo nome. Aragarças - GO é um dos destinos mais procurados nesta época do ano por ter em seu território a praia Quarto Crescente, que possui fácil acesso para turistas. No entanto, os frequentadores têm percebido o ‘encolhimento’ da faixa de areia no local com o passar dos anos.

Esse efeito é um resultado da capacidade de locomoção da água do rio. “A faixa de areia que se tem observado tem acontecido pela diminuição da capacidade de transporte de sedimentos dos rios. As areias não chegam mais às áreas de deposição de anos atrás”, conforme explica ao Semana7 o geólogo e doutor em Geociências e Meio Ambiente Silvio Cesar Oliveira Colturato, professor da Universidade Federal de Mato Grosso - Campus Araguaia (UFMT/CUA).

Ainda de acordo com ele, ao se observar as imagens de satélite dos últimos 20 anos é possível notar a diminuição da área que antes era ocupada por areia. “Vê-se que em 2003 a área de deposição de areia se estendia por mais de 1.200 metros e a largura alcançava até 150 metros, isto é, a capacidade de transporte dos rios era maior do que nos dias de hoje. Na imagem de abril de 2023 vê-se que a deposição de areia ficou restrita à uma estreita faixa, com pouco mais de 20 metros e extensão em torno de 150 metros. É uma alteração significativa para o período”, destaca Silvio. (Veja imagens abaixo)

Google Earth

faixa de areia praia quarto crescente

 

Google Earth

faixa de areia praia quarto crescente

 

Google Earth

faixa de areia praia quarto crescente

 

Para o geólogo, as possíveis causas desse fenômeno estão ligadas a ações naturais e da intervenção humana como desmatamento das margens dos rios e mudanças climáticas. “O assoreamento é a deposição de sedimentos no leito do rio e pode ser observado nos rios Garças e Araguaia quando os bancos de areia ficam visíveis nos períodos secos. A principal causa do assoreamento é o desmatamento de margens dos rios, das chamadas Áreas de Proteção Permanente (APP), que compreendem uma faixa da margem do rio em que a vegetação natural deve ser preservada. O assoreamento diminui a profundidade do leito do rio e a velocidade de fluxo das águas, diminuindo assim a energia e o poder de transporte de sedimentos do rio. Isso aconteceu na foz do rio Garças, o que com certeza contribuiu com o estreitamento e diminuição da extensão da faixa de areia da Praia Quarto Crescente”, afirma.

“Além disso, a vazão dos rios parece ter diminuído, especialmente nos períodos de cheias. Não se vê mais enchentes atingirem áreas de deposição que atingiam há 20 anos. As causas da diminuição da vazão podem estar associadas à diminuição das chuvas, como também à diminuição do abastecimento dos aquíferos, cujas águas subterrâneas abastecem os rios nos períodos secos. A diminuição de chuvas pode ter causas diversas, desde desmatamentos locais e regionais até às mudanças climáticas globais. A diminuição do abastecimento dos aquíferos está diretamente associada ao uso e ocupação dos solos, especialmente das áreas dos municípios que margeiam os rios”, esclarece Silvio.

Colturato destaca que não há como reverter este processo especificamente para recuperar a areia da praia naturalmente, “contudo, há maneiras de atenuar a diminuição da faixa de areia, através de ações coordenadas que envolvam o compromisso das administrações dos municípios da região de montante dos rios Garças e Araguaia”. Para ele, “o restabelecimento da vegetação das APP seria o primeiro passo. A não intervenção em novas áreas de APP seria fundamental. Obras de urbanização nestas áreas deveriam ser evitadas ao máximo”.

Sobre os efeitos que a temporada de praia traz aos rios da região, o geólogo acredita que o descarte irregular de lixo seja o maior problema e que as ações para preservação do meio ambiente são responsabilidade de todos os frequentadores destas áreas, bem como do poder público, que pode e deve atuar com campanhas educativas e disponibilizar locais e recipientes de descartes específicos.

Silvio ressalta também que a UFMT/CUA desenvolve o projeto de extensão “Praia limpa: diversão não combina com poluição”, que promove ações educativas com o público frequentador das praias, além de coleta e análise de solos para a quantificação de micro plásticos presentes. A iniciativa é coordenada pela professora Danielle Brasil, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde.

Reprodução

praia de aragarças - quarto crescente - antiga

Praia Quarto Crescente/Antes

O Semana7 também ouviu o professor e doutor em Geografia Eduardo Vieira dos Santos, o qual também reforça que tanto a formação quanto as alterações observadas nos bancos de areias [praias] são fenômenos naturais que fazem parte da dinâmica fluvial do curso da água do rio. Segundo ele, a interferência do homem também pode influenciar esses processos.

“Em algumas partes, dependendo da forma e da curvatura do leito do rio, é possível que ocorra a sedimentação em uma das margens à medida que ele vai escavando a outra margem. Possivelmente, no caso de Aragarças, como o rio não está conseguindo escavar o outro lado onde está o Porto do Baé, ele acaba não depositando tanto areia na parte da praia Quarto Crescente”, explica Vieira.

Ainda de acordo com Eduardo, quanto maior a ocupação da bacia hidrográfica com atividades agrícolas e pecuárias, por exemplo, maior é a tendência do surgimento de bancos de areia. No entanto, não é possível prever quais os locais afetados pelo aumento ou redução da quantidade de areia.

O professor destaca ainda que quanto maior o banco de areia, menor é a saúde do rio. Isso faz necessário avaliar os impactos que a temporada de praia ao longo do rio Araguaia traz para o meio ambiente e para a sociedade, sejam eles negativos, como poluição, degradação e incômodo de espécies causados pela presença de embarcações ou positivos, como impulsionamento da economia e turismo das cidades.

“A simples aglomeração produz efeitos, mas, se pensarmos que é inevitável, pelo menos que se evite o descarte de lixo na água ou nas praias. Isso seria importante haver uma conscientização e até um trabalho do poder público”, disse Eduardo.

*Sob supervisão de Andrezza Dias

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Nilo Temporada

 

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Elvecio Rodrigues Vilela 17/07/2023

Sou nascido aki, em Aragarças conheço essa paria.O poblema foi na década de 90 quando derrubou o barranco, para fazer estacionamentos jogando o bairro para cima da areia dai isso foi durante vários anos tai o poblema. Um abraço meu contato tai que saber mais entre em contato

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