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GERAL & ECONOMIA Sexta-feira, 11 de Agosto de 2023, 16:16 - A | A

11 de Agosto de 2023, 16h:16 - A | A

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Vala comum com possíveis restos mortais de indígenas no período da ditadura é descoberta

Local foi descoberto na Terra Indígena São Marcos, em Barra do Garças

Rogério Júnior
g1 MT



Uma vala comum foi descoberta na Terra Indígena São Marcos, em Barra do Garças, a 516 km de Cuiabá, por antropólogos, arqueólogos, historiadores e linguistas. O resultado preliminar indica a possível presença de restos mortais dos Xavante, que teriam morrido por causa da epidemia de sarampo na época da ditadura militar, entre 1964 e 1985.

Em entrevista ao g1, o professor de antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Paulo Delgado, contou que os dados coletados em campo estão em análise e poderão corroborar uma reinvindição de reparação aos Xavantes.

"Os relatos dos anciões mostram que, inicialmente, começava a morrer algumas pessoas que foram enterradas de forma individual e conforme os rituais. Depois, como morriam mais de 10 pessoas por dia, eles eram carregados em carrocerias puxadas por um trator para serem colocadas na vala comum", afirmou.

A pesquisa teve início em 2019, antes da pandemia de Covid-19, e envolveu pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Polish Academy of Science, na Polônia, e da Universidade de Winnipeg, no Canadá e UFMT.

A Terra Indígena São Marcos reúne 2.848 pessoas em uma área de aproximadamente 188 mil hectares, segundo dados do instituto Socioambiental.

Delgado contou que, a princípio, o grupo de pesquisadores recebeu uma série de relatos sobre a epidemia de sarampo ter dizimado os Xavantes em Mato Grosso e apontou uma relação com a ditadura militar.

"Sabemos que a ditadura vitimou dezenas de políticos, jornalistas e há uma grande quantidade de pessoas desaparecidas, e com os povos indígenas não foi diferente. Morreram mais indígenas do que não-indígenas", disse.

No primeiro momento da pesquisa, o grupo foi até o território indígena para verificar os relatos dos anciões, que presenciaram a escavação das valas e toda a tragédia da epidemia.

Na segunda fase, o estudo localizou a vala na Terra Indígena São Marcos através de um georadar, onde se iniciaram as coletas das amostras que agora são analisadas.

"A mortandade de Xavantes e outras etnias é decorrida do período da ditadura, onde o governo federal incentivou grandes empreendimentos que impactaram dezenas de povos indígenas. Os Xavantes são os mais graves, porque eles foram expropriados do território para implantação de uma grande agropecuária e esse empreendimento fez com que eles fossem deportados de seu território tradicional e foram viver junto com os de São Marcos", contou.

Segundo Delgado, a mudança de vida gerada em torno dos Xavantes com outros povos impactou na organização social e na própria convivência, afinal eles eram hostis entre si antes do contato com não-indígenas.

"Por meio desse estudo, os Xavantes podem reinvindicar uma reparação por conta dessa violência histórica que eles foram cometidos", disse.

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CâmaraBG agosto


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