Allan Pareira
RD News
Após um dia e meio, a família Pommot não conseguiu se despedir e enterrar a servidora aposentada Marly Pommot Maia, que morreu aos 80 anos por complicações causadas pela Covid-19. O corpo foi extraviado para o interior do Estado e a família sequer sabe para onde foi mandado. Ela era conhecida como “guardiã da memória” de Mato Grosso pelo seu trabalho na conservação de objetos históricos e valorização de museus mato-grossenses. O Hospital Santa Rosa e a Funerária Santa Rita foram denunciados como responsáveis pelo erro.
A filha da servidora também anunciou o descaso em um grupo no Facebook. “Além do sofrimento e angústia inerentes à grande perda da minha mãe Marly Pommot, por incompetência do Hospital Santa Rosa e Funerária Santa Rita, ainda somos obrigados a suportar o extravio do corpo, que fora enviado de forma equivocada para o interior do Estado. É nítido que tal desídia ultrapassa as barreiras do mero dissabor, causando dor ainda maior a minha família”, escreveu.
Segundo o advogado Leonardo Maia, neto de Marly, foi marcado que um cortejo sairia do hospital às 15h. O enterro, que iria acontecer no Cemitério do Porto, estava previsto para as 16h. "Nós estávamos em muitos carros, muita gente. Minha vó era uma mulher muito querida. Então, tinha muita gente para se despedir dela", diz.
Só que a hora marcada chegou e nada. O advogado conta que ele e a família tentaram buscar informações inúmeras vezes, mas ficaram sem retorno. Em dado momento, eles responderam e revelaram, enfim, que o corpo tinha sido extraviado para o interior de Mato Grosso. Leonardo aponta que ele pode ter ido para Mirassol D’Oeste ou Cáceres, mas não há certeza.
“Já não tenho certeza por que o hospital nem passa para nós o que foi que realmente aconteceu, onde foi o erro, daí para frente uma sucessão de erros e ausências”, pontua.
Em retorno, o hospital disse que o corpo estaria de volta às 18h. Seria tempo para fazer o sepultamento às 19h. Mas, novamente, o horário passou, e ele e a família estão sem informações. “Nós estamos sem saber onde é que minha vó está, o que é que vai acontecer, se o corpo da minha vó vai voltar hoje, se vai enterrar amanhã. Estamos totalmente perdidos”.
Em nova conversa, o Santa Rosa prometeu que entraria em contato com novas informações. “É tudo muito vago, não tem uma informação específica, nada chega para gente dizendo onde está o corpo, que horas chega, como vem, se chega hoje ou amanhã”, diz. “Essa mulher, que levou a história de Mato Grosso até o último segundo, está sendo deixada desse jeito”.
Marly trabalhou décadas na Secretaria de Estado de Cultura e foi dirigente dos principais museus do Estado. Uma fonte consultada pela reportagem diz que Marly será lembrada pela sua dedicação e seu domínio na técnica para preservar os mais diversos objetos históricos. “Foi uma grande perda para a cultura mato-grossense. Dona Marly organizou todos os museus do nosso estado, principalmente em Cuiabá”, aponta a fonte que preferiu não se identificar.
Hospital apura denúncia
Em nota, o Hospital Santa Rosa disse que lamenta o ocorrido e está apurando o fato junto à empresa funerária responsável pela retirada e remoção do corpo.
Caso identifique alguma falha interna, irá adotar as devidas providências necessárias para repara-lá.