OPINIÃO Domingo, 30 de Maio de 2021, 15:16 - A | A

30 de Maio de 2021, 15h:16 - A | A

OPINIÃO / ROSE GARCIA

A sexualidade das pessoas com deficiência



Permitir-se amar e transformar as limitações em novidades, em carinho, em descobertas. Eu sou cadeirante e sei do que estou falando. Com pouco mais de um ano de idade, eu tive poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil. O vírus atingiu minha mobilidade. Fiz muita fisioterapia, recuperei parte dos movimentos, mas minhas pernas ficaram atrofiadas e foram para sempre afetadas.

Mas quero fazer deste texto não um tormento e, sim, esclarecimento e exemplo. Quero dizer a outras pessoas com deficiência que é possível se reinventar e se permitir. Não é um processo fácil. Passa por aceitação, autoconhecimento, autoestima, exigir respeito e uma dose de sensibilidade das pessoas.

Aos 49 anos me sinto bem resolvida e tenho o sonho de incentivar outros deficientes a quebrar esse tabu que é a sexualidade da pessoa com deficiência. Hoje tenho um namorado que me aceita e me motiva a desconstruir mitos sobre o assunto.

Já alerto que o fato de eu estar namorando não é uma questão de sorte. Tem muita relação com minha aceitação e eu encontrar alguém que respeita minhas limitações. Sou diferente! Não sou assexuada. Diga-se de passagem, minha sexualidade vai muito além de ter um orgasmo como prazer sexual.

Meu namorado me ajuda a transpor as barreiras físicas e sociais. Andamos de mãos dadas e recebemos olhares curiosos. Ele sempre brinca que as pessoas me olham porque sou a mulher com as pernas mais lindas do mundo. Sinto-me maravilhada e cheia de luz para sorrir. É como se eu dissesse ao mundo: “se eu posso transpor barreiras, você pode muito mais, não perca tempo aí me estranhando”.

Pessoas com deficiência física e até mesmo intelectual merecem ter prazer sexual e conhecer seu corpo. Sim!

Deficientes fazem amor ou apenas transam das mais diversas formas. O relacionamento é para todos. Não há restrições. O problema é que sobra preconceito e falta de conhecimento.

Por isso, quero desconstruir alguns mitos e crenças equivocadas. Vamos lá!

Mito 1) Pessoas com deficiência são assexuadas. Não! Elas têm sentimentos, pensamentos e necessidades sexuais.

Mito 2) Pessoas com deficiência são hipersexuadas. Mito! O interesse por sexo é variável em pessoas com deficiências, assim como é para não-deficientes.

Mito 4) Pessoas com deficiência não podem ter orgasmos. Podem! A deficiência pode até vir a comprometer alguma fase da resposta sexual, mas isso não impede a pessoa de ter sexualidade e de vivê-la prazerosamente.

Mito 5) Não podem ter filhos. Mito! Há casos em que a deficiência pode prejudicar a vida reprodutiva, mas não é a maioria. Eu mesma tenho uma filha de 14 anos e ela não tem deficiência física.

Deficiência não é uma doença. Quando eu me abri para a vida, a deficiência não me impediu de ter relacionamentos saudáveis, casar, ter uma filha e agora voltar a viver um amor que havia se perdido no tempo e foi retomado há dois anos. Permita-se!

Rose Garcia é formada em Administração e gestora pública

 

Assessoria

Hotel Paiaguas Dia dos Namorados

 



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Anderson Barbalho 28/10/2021

Parabéns Rose Garcia, mulher guerreira, exemplo de mulher e de determinação.

Simone Vieira Alves 31/05/2021

Parabéns pela Iniciativa Rose.

2 comentários

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