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SAÚDE Terça-feira, 21 de Janeiro de 2025, 10:43 - A | A

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SAÚDE / Dia Nacional

Médica infectologista do Hospital Universitário da UFMT fala sobre conscientização e combate à Hanseníase

Brasil é o 2º país com maior índice de casos da doença, segundo o Ministério da Saúde (MS)

Da Assessoria



No Brasil, a Lei nº 12.135/2009 instituiu o último domingo do mês de janeiro como Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase e, desde 2016, por iniciativa do Ministério da Saúde, o mês de janeiro ganha a cor roxa para organizar ações nacionais de conscientização
e prevenção contra a doença que, ainda cercada de preconceitos, tem cura e é tratada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com Letícia Cavalcante, médica infectologista do Hospital Universitário Júlio Müller, da Universidade Federal de Mato Grosso (HUJM-UFMT), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), a doença é classificada como infecto-contagiosa,
causada pelas bactérias Micobacterium leprae e Micobacterium lepromatosis, e transmitida pelas vias respiratórias.

“Após o contato íntimo e prolongado com o indivíduo doente que está sem tratamento, ou seja, por mais de 20 horas semanais e por, no mínimo, três meses, a pessoa pode contrair a doença”, explica a médica. “Porém, essa patologia demora muitos anos para se manifestar.
De três a cinco, com relatos de até 20 anos”, alerta.

Quando se manifesta, os sintomas costumam ser discretos, como dor nos nervos, dormências, formigamento, câimbras, perda de força nos braços ou pernas, perda de sobrancelhas, e dores no corpo.

“A hanseníase é uma doença sistêmica, ou seja, atinge o corpo todo, com preferência pelos nervos periféricos”, aponta Letícia Cavalcante. “Suas manifestações podem vir, ou não, acompanhadas de manchas na pele. Quando as manchas são visíveis, podem ser mais
claras ou avermelhadas, mas também podem aparecer nódulos e placas eritematosas. Muitas vezes, no exame físico, localizamos áreas de pele sem manchas visíveis, mas com perda de sensibilidade. É importante mencionar que esta perda é, primeiramente, da sensação
de diferenciação térmica. Muitas pessoas pensam que, se sentirem o toque no local, a sensibilidade está preservada. Entretanto, a sensibilidade ao toque é a última a ser perdida. Pode-se testar a sensibilidade ao calor e ao frio usando um chumaço de algodão
seco e de algodão com álcool na mancha suspeita”, explica.

O tempo entre o contágio e o surgimento dos sintomas é longo e pode variar de três a sete anos, com relatos de períodos de incubação ainda maiores. No entanto, quando a doença é tratada, para de ser transmitida, então não há necessidade de isolar o paciente.
Já sem tratamento, ou em casos de diagnóstico tardio, a hanseníase gera sequelas que podem ser permanentes, incluindo deformidades, perda irreversível de sensibilidade nos membros, danos neurológicos e até amputações.

Para a infectologista, o tratamento precoce é a melhor forma de evitar complicações. Além disso, é fundamental o rastreio de contactantes para coibir o contágio. “Se você vive com alguém que foi diagnosticado com hanseníase, mesmo que não tenha sintomas, deve
ser examinado da cabeça aos pés, detalhadamente, por um médico treinado. Este exame deve ser repetido por cinco anos, com frequência anual, mesmo que não haja sintomas”, ressalta.

Atualmente, o tratamento disponível para a doença é a poliquimioterapia (PQT), que combina três antibióticos: rifampicina, clofazimina e dapsona. O esquema terapêutico é oferecido gratuitamente pelo SUS e está disponível no HUJM-UFMT, que é referência em atendimento
de pacientes com hanseníase no estado de Mato Grosso. Após o diagnóstico, o paciente é encaminhado ao Núcleo de Vigilância epidemiológica para notificação e tem a primeira cartela de medicação fornecida. Depois disso, é contrarreferenciado à Unidade Básica
de Saúde, que dará seguimento ao fornecimento da medicação.

Dados do último boletim epidemiológico da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 22.773 novos casos de hanseníase foram diagnosticados no Brasil em 2023, um aumento de 4% em comparação com o ano anterior.

Para Letícia Cavalcante, um dos maiores desafios no combate à doença é o estigma social, que afeta a vida do paciente e o afasta do tratamento. “Existe um preconceito imenso sobre a doença estar relacionada a falta de higiene, falta de cuidado, e até a castigo
divino”, aponta. “O termo hanseníase vem nos mostrar que a doença é apenas uma doença, gerada por uma bactéria, que atinge várias classes sociais, etnias e idades, e que tem cura. É importante disseminarmos os conhecimentos científicos sobre a doença em toda
a sociedade para abolirmos o estigma”, conclui.

Rede Ebserh

O HUJM-UFMT faz parte da Rede Ebserh desde novembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão
de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas
e inovação. 

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