Allan Pereira
RD News
Foi logo no segundo dia deste ano que a jornalista Daniele Danchura, de 43 anos, percebeu a dor de garganta e a perda do olfato e do paladar. "Sumiu tudo! Eu não senti cheiro nenhum. Mas, mesmo assim, eu não achava quer era Covid", disse ao RD News. Ela já tinha se infectado com o coronavírus em outubro de 2020. Após procurar ajuda médica, ela fez um novo exame PCR e, quando o resultado saiu nove dias depois, deu positivo novamente. O médico explicou que não se tratava de uma reinfecção, mas de uma nova variante do vírus.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou a reportagem do RD News que, “até o momento, não foi notificada sobre casos suspeitos de contaminação pela nova variante do coronavírus”. São três variantes do coronavírus já detectadas pelos cientistas. Uma no Reino Unido em setembro de 2020, a segunda na África do Sul em novembro do mesmo ano e a terceira no Amazonas, no início deste ano, após o Ministério de Saúde do Japão identificar a nova linhagem em viajantes que estavam no estado brasileiro (saiba mais abaixo).
Logo no dia 1º, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota técnica recomendando aos laboratórios para ficar atentos e adotar medidas que favoreçam o diagnóstico do vírus. Informou também que a maioria dos ensaios tipo PCR (o exame mais eficaz para identificar o coronavírus quando a pessoa apresenta os sintomas) regularizados no Brasil utilizam mais de um alvo – o que reduziria o impacto de não diagnosticar as variantes.
Diretor do laboratório Carlos Chagas, o bioquímico Jerolino Aquino fala que não é simples fazer a identificação dessas novas variantes. "Isso não é fácil fazer porque há necessidade de um estudo genético". Apesar disso, ele diz que, assim o coronavírus, essa nova cepa vai "chegar mais cedo ou mais tarde" em Mato Grosso. "É uma realidade".
A patalogista Natasha Slhessarenko, que também ocupa cargo de direção no laboratório Cedic, também fala que a variante precisa ser analisada geneticamente para ser encontrada. “Isso não pode ser feito por qualquer laboratório. A nota da Anvisa é para os laboratórios se atentarem aos casos de reinfecção. Não está mandando prometerem identificar em novo teste. Está levando orientação de como fazer nesses casos”.
Para identificar a nova variante, a patologista explica que a amostra coletada pelo exame PCR deve ser sequenciada geneticamente em um laboratório credenciado, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ou Instituto Adolfo Lutz, conforme determina protocolo da Anvisa. Aqueles que já pegaram a Covid-19 precisam ter 90 dias entre os dois exames, ambos positivos, para ser analisado. Além disso, é feito a avaliação da história clínica do paciente.
Variantes do coronavírus são mais contagiosas que vírus original
Todas as três variantes têm mutações que a tornam mais transmissíveis que o coronavírus original, ou seja, elas se espalham mais e infectam mais pessoas em um curto espaço de tempo. Contudo, as mudanças ainda não indicam que elas sejam mais letais. Laboratórios da Fiocruz e do Instituto Lutz já identificaram casos de pacientes brasileiros infectados com as cepas estrangeiras.
Na mutação britânica, os cientistas já detectaram que essa nova cepa pode também infectar crianças tanto quanto os adultos, o que era diferente com as linhagens anteriores. Já um estudo da África do Sul identificou ainda que, quem já adquiriu os anticorpos por ter pegado a Covid-19, pode não ter a proteção necessária para as mutações africana e brasileira. Além disso, já foram detectados registros de reinfecção por essas mesmas mutações.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a variante britânica já está presente em mais de 60 países, enquanto a africana se espalha mais devagar, estando presente em 23 países e territórios.
A Fiocruz confirmou que uma das mutações encontradas nos viajantes japoneses tem origem no Brasil. Os pesquisadores estimam que a mutação brasileira ocorreu provavelmente entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Em informe para o Governo Federal, as autoridades do Japão afirmaram que identificaram 12 mutações no vírus encontrado no Amazonas, sendo que uma delas é a mesma encontrada nas variantes no Reino Unido e na África do Sul, ou seja, o de ser mais contagiosa.
Além do desrespeito as medidas de distanciamento social, as mutações no vírus encontradas em Manaus têm sido apontadas como um dos fatores para o crescimento rápido de casos de Covid-19, levando ao colapso do sistema de saúde e a falta de oxigênio em unidades hospitalares.
O Governo Federal disse que não há “nenhuma evidência científica que aponte impacto na efetividade do diagnóstico laboratorial”. Isso significa que, apesar dos testes atuais dizerem se é ou não a nova variante, eles detectam a presença do coronavírus. Também não há estudos que apontem que as vacinas contra o vírus sejam ineficazes com essas mutações.
Jornalista se recupera de segunda infecção causada por suposta variante
A jornalista Daniele Danchura acredita que tenha se infectado no final de dezembro, entre as festas de Natal e Ano Novo, pois foi o único período em que ela saiu de casa. Não apresentou sintomas no primeiro momento. Depois de apresentar os primeiros sinais, ela ainda ficou descrente. "Não pode né", suspira. Mas, depois do marido e da filha também ficarem doentes, a família buscou ajuda médica.
O profissional pediu o exame PCR. Daniele falou ao médico que já tinha se infectado, mas ele insistiu e ela fez a coleta da amostra. Deu positivo. Com o resultado, ela perguntou se era uma reinfecção. "É bem provável que seja nova variante do vírus", disse.
Apesar da suspeita de estar com a nova variante, Daniele conta que os sintomas não estão tão fortes como da primeira vez que estava com o coronavírus. Ela ainda sente o paladar e olfato afetados pela nova infecção, além do cansaço e falta de ar. Uma tomografia aponta que os pulmões não estão comprometidos. "Eu consigo respirar normal. Me sinto um pouco mais cansada do que eu ficaria, determinado horário do dia você tem uma queda de rendimento".
Também relata que tem dificuldade para dormir e reclama de um zumbido baixo no ouvido esquerdo.
Atualmente, Daniele e a família já se recuperaram e terminaram o isolamento. Aos poucos, ela volta a fazer exercícios físicos e atividades leves. Ela espera a recuperação completa para voltar as corridas. Ainda assim, ela avalia que a Covid-19 afetou muito a sua qualidade de vida. "As pessoas que já tiveram covid, ou ao menos suspeitam, não devem baixar a guarda", finaliza.