G1-MT
A taxa de mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes em Mato Grosso é a segunda maior do país. Os dados são de um levantamento feito pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), que aponta os índices de casos e mortes proporcionalmente ao número de habitantes.
O levantamento também aponta que Mato Grosso está em segundo lugar no maior índice de mortes no interior do estado. Nas últimas semanas, os hospitais que atendem só Covid vêm enfrentando aumento da ocupação nos leitos de UTI. Segundo os médicos, a maioria é de jovens entre 30 e 45 anos.
Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apontam que, de janeiro até os primeiros dias de junho, 436 pessoas com idades que variam de 31 a 40 anos morreram vítimas da Covid-19 em Mato Grosso. O número é maior do que as mortes contabilizadas durante todo o ano de 2020 nessa faixa etária, quando foram registradas 192 mortes.
Mato Grosso registra, até a tarde desta terça-feira (8), 11.252 mortes em decorrência da Covid-19, conforme dados da SES.
Para o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Diego Xavier, a taxa de mortalidade devido à Covid-19 em Mato Grosso é lamentável e superior à taxa registrada no Amazonas.
“A alta taxa de mortalidade em Mato grosso é extramente lamentável. O estado no qual eu cresci, onde eu tenho família, teria todas as condições de não acumular esse volume de óbitos em relação a sua população, superior ao observado no estado do Amazonas. É muito triste ver essa situação”, afirmou.
Ainda segundo ele, as condições econômicas de Mato Grosso deveriam ser utilizadas para fornecer atendimento médico à população. Ele também destaca que a taxa de mortalidade é maior em pessoas mais jovens no estado.
“É um estado que se orgulha pela sua produção agrícola, que tem PIB elevado, que tem plenas condições de fornecer pra sua população atendimento e acesso à saúde com qualidade. Então, quando a gente olha o estado do Mato grosso nessa situação, com taxa de mortalidade superior ao do Amazonas e de vários outros estados que tem um componente demográfico, uma população mais idosa, que a gente sabe que é uma população que evolui de forma mais grave com essa doença, e mesmo assim a gente vê o estado do Mato Grosso nessa situação, é muito triste”, disse o pesquisador.
Para Diego, o estado infelizmente acreditou em soluções simples para o problema.
“O governador do estado distribuiu o kit-covid para todos os 141 municípios, continuou acreditando que o problema não tinha toda essa gravidade, e hoje quando a gente olha os números, eles confirmam que o comportamento, a conduta negacionista de um problema sério, grave, como é a Covid-19, ela faz vítimas”, disse ele.
Para o pesquisador da Fiocruz, não é nenhum pouco razoável que um estado rico, um estado com uma população mais jovem do que estados como no Sul do país, por exemplo, acumule uma taxa de mortalidade tão alta.
“A gente sabe que Mato Grosso não tem as desigualdades que a gente encontra, por exemplo, no Rio de Janeiro. É uma diferença de renda tão significativa entre os mais ricos e os mais pobres. A gente sabe que existe um processo de desenvolvimento no estado que dá oportunidade para que as pessoas tenham emprego, trabalho. Então, quando a gente olha para esses números, a única coisa que pode explicar essa situação lamentável do estado, foi o comportamento negacionista, a diminuição do problema, a busca por solução fácil, em vez de se buscar trabalhar junto à ciência”, diz.
Vacinação
Para o pesquisador da Fiocruz, a velocidade da vacinação em Mato Grosso é muito baixa e é possível que o estado atinja o primeiro lugar no ranking de mortes do país.
“É triste, a gente esperar que a vacinação avance no estado, que também apresenta uma velocidade de aplicação de doses bastante baixa. A gente espera que se aumente essa velocidade para que a gente consiga evitar novos óbitos e que a população, por fim, adote as medidas que têm sido apontadas desde o início, como evitar locais aglomerados, utilizar corretamente a máscara, fazer uso do álcool em gel, caso contrário a gente vai continuar contabilizando óbitos e é bem provável que Mato Grosso atinja essa lamentável primeira posição na taxa de mortalidade por essa doença que é evitável, basta que as pessoas não peguem esse vírus pra que elas não morram”, disse ele.