Camila Ribeiro
Mídia News
Ao justificar sua migração do PSL para o Podemos, a senadora Selma Arruda aproveitou para expor suas divergências em relação a pautas e posicionamentos defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro, agora ex-colega de partido.
Uma das principais queixas da parlamentar é relacionada à reforma da Previdência, já aprovada na Câmara dos Deputados e tramitando atualmente no Senado. Selma chegou a classificar o texto como “um monstro”.
Para ela, há pontos extremamente negativos no projeto, especialmente no que diz respeito às regras para aposentadoria de militares. Selma defende, por exemplo, que os policiais tenham o mesmo tratamento dispensado aos membros das Forças Armadas.
“Todo mundo sabe que a reforma é extremamente necessária - isso é obvio. Agora, existem pontos que não podemos concordar. Porque fazer essa injustiça com as policiais? Porque querer um policial velho, despreparado para correr atrás de bandido?”, questionou.
“Queremos que a Previdência pelo menos trate policiais da mesma forma como serão tratados os do Exército. Porque existe uma reforma diferente para quem e do Exército? Isso não é justo. Não concordo com isso”, disse Selma.
Também segundo ela, da forma como está o texto abre margem para que pensionistas recebam um subsídio inferior ao salário mínimo aplicado no País.
“Vejam que não tem um trabalhador no Brasil que pode ganhar abaixo do salário mínimo. Mas nessa reforma, infelizmente, a gente tem essa irregularidade com a qual não concordo e não sou obrigada a concordar”, afirmou.
Ainda sobre a reforma, a senadora criticou a ausência de um período de transição, o que inviabiliza os trabalhadores de “organizarem” suas aposentadorias. “Isso não é justo, não concordo. São pontos que facilmente dá para corrigir”, ponderou ela.
“Brigar por esses pontos, brigar por essas injustiças não é brigar com o presidente. Acredito que nem o presidente tenha noção total de como ficou essa reforma, que monstro foi criado. Concordo com a reforma, vou votar a favor, mas não concordo com esses pontos”.
Enfraquecimento do Coaf
Outro descontentamento revelado por Selma é por conta da decisão do presidente Jair Bolsonaro em manter o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Porque o COAF foi enfraquecido? Lutamos muito aqui para que o Coaf não saísse das mãos do ministro Sérgio Moro. O Podemos até entrou com uma ação judicial à época e a ação ficou prejudicada porque o Governo concordou que o Coaf voltasse para o Guedes e agora nem Coaf não é mais”, lamentou ela, referindo-se à transformação do conselho em Unidade de Inteligência Financeira.
“Sou contra esse enfraquecimento do Coaf, da Receita Federal. A redução do poder de investigação dos auditores. Quem é contra corrupção não pode concordar com isso”, acrescentou.
“Sem traição”
Apesar das críticas e da mudança partidária, a senadora Selma Arruda afirmou que continuará apoiando o Governo do presidente Bolsonaro.
“Mudar de partido não é traição. Sair de um partido e ir para outro não significa trair Bolsonaro. Divergir em alguns pontos das ideias do Bolsonaro não é traição. Acho que nem na família a gente consegue ter todos os membros concordando com as mesmas ideias, ainda mais num partido”, disse.
“As pessoas têm ponto de vistas diferentes. Tenho uma formação, algumas coisas não concordo com ele, o que é normal. Não estou indo para a oposição. O Podemos é um partido organizado e que me da liberdade para poder exprimir essas coisas que estou dizendo aqui”, concluiu.