Rafael Govari
AGRNotícias
Até poucos anos, no Mato Grosso se fazia apenas uma safra de grãos. Hoje, boa parte da área agricultável que recebe soja no verão, acaba sendo ocupada com uma segunda safra, com milho, algodão, gergelim e outras culturas.
Para dar tempo de fazer duas safras, as variedades são mais precoces, as plantadeiras e as colheitadeiras maiores. Com isso, a janela para colheita acaba sendo menor e as toneladas são tiradas das lavouras num prazo bem menor que há algumas safras.
Porém, o sistema de transporte e de recebimento e armazenagem não acompanhou na mesma proporção o crescimento e o desenvolvimento do agro. Além dos prazos cada vez menores, a área destinada para a agricultura e a produtividade no Mato Grosso crescem a cada ano.
Se não bastasse essa disparidade, em anos como o atual, a chuva tem prejudicado a colheita e as cargas de soja estão vindo até os armazéns com mais umidade, o que provoca atrasos na descarga e na secagem. Caminhões chegam a ficar dias parados para descarregar e, assim, onde precisava de um caminhão, já são necessários dois.
Essa realidade está provocando falta de caminhões em municípios produtores como Canarana-MT e, hoje, o produtor olha para o céu esperando que o sol apareça e olha para a estrada esperando a chegada de um caminhão à sua lavoura para poder colher. Consecutivamente, o valor dos fretes, internamente e externamente, tem aumentado em mais de 50%.
Mesmo com o aumento do frete, esse dinheiro não fica no bolso do caminhoneiro. Isso porque há alguns dias, o óleo diesel, assim como os demais combustíveis, tiveram um dos maiores aumentos recentes. No ano, o diesel já acumula alta de quase 30%. Em Canarana, o combustível utilizado pelos caminhões chega a custar R$ 4,88 o litro.
Sidnei Weirich, diretor de logística da Cootromat (Cooperativa de Transportes Rodoviários de Mato Grosso), sediada em Canarana, que está atendendo 10 fazendas da região no transporte da safra, disse que o aumento dos combustíveis não influenciou no aumento dos preços dos fretes. O principal motivo é a demanda.
Se o frete subiu para o produtor, fica ainda mais evidente que o caminhoneiro não aumentou seu lucro, porque com filas em armazéns e nos portos, o caminhão faz menos viagens do que fazia antes. É prejuízo para o produtor, é prejuízo para o caminhoneiro.
“A gente está vivendo esse problema junto com o produtor. Os caminhões que normalmente deveriam dar conta de puxar para uma fazenda, está sendo pouco, porque está demorando a descarga. Assim, onde precisava de um caminhão, agora precisa de dois, porque um chega a ficar dias na fila para descarregar”, disse o diretor de logística.
No frete interno em Canarana, em uma fazenda onde o produtor pagava R$ 2,00 para transportar a saca da sua lavoura até o armazém, ele agora está pagando R$ 2,50, aumento de 25% e mesmo assim não encontra caminhão. “No desespero a gente oferece até mais, mas não tem caminhão. A colheita está atrasada, a soja está passando do ponto e o plantio do milho está atrasado. O prejuízo é grande”, disse o agricultor.
Para fora do município, o aumento do frete foi ainda maior. Conforme a Cootromat, a tonelada de Canarana para Uberaba-MG, antes da safra custava R$ 160,00 e agora subiu para R$ 223,00, aumento de quase 40%. Para Santos-SP, o valor foi de R$ 245,00 para R$ 295 (20%), para Paranaguá-PR de R$ 245,00 para R$ 300,00 (22%) e para São Simão-GO de R$ 120,00 para R$ 185,00 (54%).
O cenário nesta safra deixa ainda mais claro que, além da porteira para dentro com investimento em tecnologia para fazer duas safras, o produtor precisa estar atento ao que acontece da porteira para fora, seja na estrutura do armazém que ele faz contrato para entregar sua soja, bem como, traz a necessidade de fazer contrato antecipado para garantir caminhões para puxar sua safra.