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CIDADE Quinta-feira, 10 de Julho de 2025, 08:39 - A | A

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CIDADE / meio ambiente

Organizações Xavante repudiam nomeação de suposta representante indígena em comitê de bacia hidrográfica no MT

Entidades denunciam violação de direitos e exigem revogação da nomeação de mulher que se autodeclara Xavante, mas não possui reconhecimento das lideranças tradicionais

Marcelo Borges
Semana7



Três organizações ligadas ao povo A’uwe Uptabi (Xavante) divulgaram notas públicas em que repudiam a escolha da atual representante indígena no Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Rio das Mortes (CBH-ARM), instituído recentemente em Mato Grosso. As entidades denunciam que a vaga destinada aos povos originários foi ocupada por uma mulher que se autodeclara Xavante, mas que não possui vínculos com o território, a ancestralidade ou o reconhecimento das lideranças tradicionais.

A denúncia é feita pela Organização Indígena Xavante ETETSWATÓ, pela Namunkurá Associação Xavante (NAX) e pela APSIRE – Associação de Proteção Social Indígena e Recuperação Ecológica. Em comum, as entidades exigem a anulação da nomeação, a reabertura do processo de escolha com base no direito à consulta prévia, livre e informada, e o respeito ao controle social do povo Xavante.

A representante nomeada, identificada nas notas como Mara Barreto, é acusada de apropriação indevida da identidade étnica e de ocupar de forma ilegítima um espaço institucional que deveria ser destinado a uma liderança indígena reconhecida pelas comunidades impactadas pela bacia do Alto Rio das Mortes.

“As decisões do Comitê afetam diretamente nossas comunidades. Não aceitaremos que alguém sem vínculo territorial, cultural e político com o povo Xavante fale em nosso nome”, afirma a ETETSWATÓ. A organização reforça ainda que a bacia atravessa diversas terras indígenas Xavante, como Sangradouro, São Marcos, Areões e Pimentel Barbosa, e que a autodeterminação dos povos originários deve ser respeitada.

A NAX, com base na Terra Indígena São Marcos, destaca que a ocupação da vaga por alguém sem legitimidade representa “a invisibilização de nossas vozes legítimas” e critica o uso de uma representatividade "fabricada" como forma de silenciar as lutas reais das mulheres Xavante. “É especialmente grave que, num contexto em que as mulheres indígenas ainda enfrentam o racismo estrutural e o apagamento institucional, seja justamente uma mulher sem sangue A’uwe Uptabi a ocupar uma cadeira que deveria ser garantida às nossas representantes legítimas”, pontua a nota.

A APSIRE também reforça a denúncia, classificando o caso como “usurpação de um espaço de fala que pertence aos povos originários” e cobrando o compromisso das instituições públicas com as lutas das mulheres Xavante. “A verdadeira representatividade nasce do território, da ancestralidade e do reconhecimento coletivo, e não de declarações unilaterais desvinculadas da realidade comunitária”, diz o texto da entidade.

As três organizações citam a violação do Artigo 231 da Constituição Federal, que assegura aos povos indígenas o direito à sua organização social, línguas, crenças e tradições, bem como a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, que garante o direito à consulta prévia sempre que decisões administrativas impactarem comunidades tradicionais.

Todas encerram as três manifestações com uma frase unica e direta: “Mara Barreto não é Xavante. Não nos representa.”

A reportagem não conseguiu contato com a comissão responsável pelo processo eleitoral do CBH-ARM e nem com Mara Barreto até o fechamento desta matéria. Segue aberto o espaço para posicionamento dos mencionados. 

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