Gazeta Digital
O ano de 2020 foi o que teve mais registros de fogo no Pantanal desde o fim da década de 90, quando se iniciou o monitoramento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As queimadas persistentes e letais no bioma Pantanal já resultaram impactos incalculáveis à biodiversidade, à saúde humana e à economia. Diante deste cenário, os setores de geoprocessamento do Ministério Público dos Estados de Mato Grosso do Sul (MPMS) e de Mato Grosso (MPMT) elaboraram Relatório Técnico para que possam traçar estratégias de atuação para trabalhar tanto na forma preventiva, quanto na repressiva, visando minimizar ocorrências como estas em período futuro.
Segundo os dados apresentados nesta segunda-feira (5/4), na reunião virtual sobre a “Atuação dos Ministérios Públicos contra os Incêndios no Pantanal”, após levantamentos, pôde-se constatar que a área atingida nos dois Estados, no período de 1° de janeiro a 30 de novembro, foi de 4,5 milhões de hectares, em 21 municípios, prejudicando 2.058 propriedades (32 prejudicadas por incêndios que vieram dos países vizinhos), 16 Unidades de Conservação e seis terras indígenas. Grande parte da área queimada configura-se como de formação campestre (36,30%), campos alagados/áreas pantanosas (23,09%) ou formação florestal (25,54%).
O que chama atenção é que boa parte deste incêndio, que prejudicou inúmeros municípios e milhares de propriedades rurais, originou-se em, aproximadamente, 286 pontos de ignição, sendo 152 em propriedades privadas (registradas no CAR), 80 em áreas indígenas, 53 em áreas não identificadas e apenas 1 em Unidades de Conservação.
Foram isolados os focos iniciais de incêndios nestas propriedades traçando um raio de 200 metros de redes elétricas (2,43%), estradas públicas (0,97%), estradas particulares (16,99%) e margens de rios (21,84%), sendo que 57,77% dos focos iniciais ocorreram no interior destas, o que demonstra uma grande probabilidade de terem ligação com as atividades agropastoris.
Segundo o Promotor de Justiça e Diretor do Núcleo Ambiental, Luciano Furtado Loubet, esta informação é de vital importância para a definição das estratégias de trabalho a partir de agora, pois, sabendo-se que uma boa parte dos pontos de ignição ocorrem no interior de apenas algumas propriedades privadas, longe de rios, estradas, redes elétricas ou outras possíveis causas de ignição, cabe aos proprietários rurais no Pantanal – com orientação, apoio e cobrança do Poder Público – adotar medidas necessárias para a prevenção destes incêndios, já que somente eles podem controlar o interior de seus imóveis.