Getúlio Costa
Do ensino de qualidade ao abandono total. Esta é a história de uma das escolas mais famosas de Barra do Garças, que teve uma estrutura suntuosa, de dar inveja a qualquer unidade particular ou pública de educação nas décadas de 80 e 90 na região Centro-Oeste.
Construída e inaugurada em 14 de setembro de 1979 pela Congregação Salesiana, que na época tinha na linha de frente o padre Firmo Pinto Duarte Filho, a Escola Dom Bosco, foi inaugurada com 33 salas de aulas, diante de um cenário de euforia de pais e alunos, que disputavam com muito suor cada vaga disponibilizada na unidade de ensino.
Seguindo a doutrina do seu maior fundador, o Padre Dom Bosco, a escola iniciou suas atividades com três turnos, e um número surpreendente de 3 mil alunos, entre crianças, jovens e adultos, que frequentavam aulas do ensino fundamental ao ensino médio.
Iniciava na época em Barra do Garças, um intenso movimento cultural e educacional que não era regionalizado, mas refletia as preocupações dos grandes centros do país, não somente no campo da educação, mas sobretudo em relação às questões econômicas, sociais e políticas vividas pela sociedade, sendo que a grande maioria dos atuais profissionais formados e atuantes no mercado local e da região, foi educada nas salas de aulas da mais tradicional e afamada escola Dom Bosco.
Situada no setor Velha Barra, numa área privilegiada, anexo à igreja Matriz de Santo Antônio, a antiga escola viveu momentos gloriosos, principalmente na década de 80 quando ainda era administrada pela Missão Salesiana.
Já em 1990 a Missão Salesiana de Mato Grosso deixou de ser proprietária do imóvel, através da desapropriação que ocorreu por força do decreto 2.538, publicado no Diário Oficial de Mato Grosso em 07 de maio de 1990. Data essa, que a escola deixou de ser salesiana, e passou a ser administrada pelo governo do estado de Mato Grosso, em um acordo de venda do prédio.
Estava surgindo nesse momento uma novela em série, gerada pelos desacordos comerciais no cumprimento dos pagamentos por parte do estado. Várias negociações foram feitas com a Missão Salesiana, e por dezenas de vezes não cumpridas, e assim, esses desacordos foram fragilizando a sobrevivência da escola Dom Bosco, pois durante toda essa confusão, a escola vivia sob ameaça de ter as suas portas fechadas, o que acabou provocando uma debandada de alunos para outras unidades da rede estadual de ensino em condições mais favoráveis.
A partir dessa transferência dos alunos, começou também a fase de ruína até o fechamento total da escola em 2005, onde a unidade escolar foi transformada em depósito de materiais didáticos vencidos da secretaria de educação.
De lá para cá, muito se falou e pouco se fez para mudar a realidade da imponente Escola Dom Bosco.
Ao ser desativada em 2005 pelo governo do Estado a promessa era de que o prédio seria transformado num centro profissionalizante ou até mesmo numa faculdade estadual. Todavia o projeto parou. Com o fechamento da escola, foi aberta a polêmica sobre a quem pertenceria o prédio. O Estado dizia que o prédio seria da Missão Salesiana Igreja Católica, mas a coordenação da missão alegava que o colégio pertencia ao Estado e que havia uma dívida de quase R$ 5 milhões com a Igreja pelo tempo de ocupação do prédio.
Cogitou-se, por exemplo, aproveitar um andar do prédio para implantar o Centro Administrativo Estadual de Barra do Garças, para abrigar todas as repartições públicas do Estado, além da transformação em uma creche, e até mesmo foi pensado em uma possível venda do imóvel.
Vários secretários estaduais de Educação conheceram in loco a estrutura e lamentaram o que viram. Todos perceberam em suas gestões que era preciso fazer algo para aproveitar as instalações e nada foi feito.
Assim a famosa escola Dom Bosco, instituída pelos padres e posteriormente assumida pelo governo do Estado, se transformou ao longo desses anos em um duro retrato do abandono, servindo como foco de dengue, ponto de consumo de drogas e dormitório para andarilhos. Toda essa situação tem gerado protesto dos moradores vizinhos da escola que se dizem indignados com o estado de abandono da instituição.
Por último, depois da Missão Salesiana ter conseguido um acordo financeiro da dívida com o Estado ainda no governo Silval Barbosa, em março do ano passado (2018) o governo Pedro Taques apresentou a ideia da implantação da Escola Militar Tiradentes para definitivamente minimizar o fim trágico que teve a escola Dom Bosco.
De acordo com a secretaria estadual de Educação na época (Seduc), a estrutura gigantesca iria passar por completa reforma e adequações para abrigar a Escola Tiradentes. Seriam executadas obras de pintura, reparos hidráulicos e elétricos, além de reposição das janelas que tiveram as vidraças destruídas por vândalos. O prazo para a execução dos serviços era de dois meses.
Concluída a etapa das reformas, iniciaria a fase prática com a instalação da unidade escolar que teria capacidade para 1,6 mil alunos.
Com investimento em mais de 500 mil reais, os reparos e adequações foram iniciados e não terminados pela construtora Daniela Eireli – ME, simplesmente por falta de pagamento das obras realizadas por parte do Estado, e novamente o prédio da Escola voltou ao esquecimento e abandono.
Com uma simbologia muito importante para as famílias Barra-garcenses e do Araguaia, a escola Dom Bosco serviu de base educacional para milhares de pessoas, já que foi referência na qualidade de ensino na região. E Depois de quase 15 anos da desativação total, eis que surge uma luz no fim do túnel para reerguê-la sob o regime da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso.
Hoje se percebe claramente que o colégio salesiano Dom Bosco com sua importante simbologia, marcou a vida das famílias Barra-garcenses, e de todo o centro-oeste. Ele se tornou uma lembrança do passado como ponto de referência para a vida, e o desenvolvimento das comunidades e das pessoas.
É inegável o significado da Congregação Salesiana para a cidade de Barra do Garças, bem como para a educação brasileira, já que a doutrina de seu fundador - o padre Dom Bosco – tornou-se referência para muitos estudantes Barra-garcenses, que se enchem de orgulho em falar que estudou naquela unidade de ensino.