Kayc Alves
Da redação
O prefeito interino de Alto Taquari, Marco Aurélio, questionou empenhos da prefeitura com gastos em panificadoras realizados durante as quase três semanas em que Fábio Garbugio esteve como chefe do Executivo. Afastado do cargo em julho, por suspeita de improbidade administrativa, e reconduzido no mês passado, pelo Tribunal de Justiça (TJ), Garbugio ficou 14 dias no poder. Uma reviravolta, no início da semana, voltou a afastá-lo, e nova decisão emitida nesta sexta-feira (8), pelo tribunal, já reverteu o afastamento.
O relatório de gastos da prefeitura de Alto Taquari mostra que entre o dia 18 de outubro e 4 de novembro foram gastos quase R$ 10 mil em compras em panificadoras do município. Segundo Marco Aurélio, que tomou posse da prefeitura nesta semana, Garbugio usou o tempo no cargo para oferecer comes e bebes a servidores públicos, tentando fazer a “política da boa vizinhança”.
Mas o prefeito afastado nega jogada política para conquistar funcionários. Segundo ele, quem tenta cativar, por interesses politiqueiros, os servidores públicos é Marco Aurélio. Uma decisão do TJ, nesta sexta, deve reconduzir Garbugio à administração já nesta segunda-feira (11).
O documento, o qual o Semana7 teve acesso, aponta empenhos que variam de R$ 46,50 a R$ 1.634,40, gastos em estabelecimentos de gênero alimentício. Em 17 requisições empenhadas, 15 foram em panificadoras e duas ocorreram em uma mercearia. As compras aconteceram ao longo de 13 dias úteis, somando o valor exato de R$ 9.169,75.
Mais detalhes sobre os empenhos dão conta de que as compras tinham como destino eventos como comemoração do Dia do Servidor Público (sete aquisições), do Dia das Crianças, além de reuniões internas em setores diversos da prefeitura.
Para o prefeito Marco Aurélio, os “cafezinhos” eram usados para que Garbugio se aproximasse dos funcionários públicos. “Nas reuniões ele se mostrava muito receptivo com os funcionários. Dizia que não ia mexer em nada do que eu fiz nos 95 dias em que ele esteve afastado.”
Marcos acredita que a necessidade do prefeito afastado em praticar a “política de boa vizinhança” com os servidores se deve ao fato de ele não ter executado, ao longo de seu governo, as atualizações salariais que a classe reivindicava. Segundo o gestor interino, a garantia de direitos dos servidores tem sido esquecida por uma década e meia.
“O que justifica uma prefeitura hoje, com cerca de R$ 9 milhões na conta, pagar os funcionários com os seus direitos lesados? Ele teve a oportunidade de fazer a correção e fez apenas de um ano. Eu fiz o ajuste de 15 anos”, diz Marco.
Assim que assumiu a prefeitura em julho, depois do primeiro afastamento de Garbugio, o então prefeito interino deu a elevação de nível aos servidores efetivos referente aos 15 anos em que não ocorria o ajuste. Ele também viabilizou a elevação de classe a algumas categorias referente aos anos entre 2017 e 2019.
As mudanças resultaram em aumentos significativos, que acrescentaram aos salários de servidores até 1.000 reais. “Nós pegamos o salário vergonhoso de pedreiro de 1.002 reais, demos mais 500 ou 600 reais.”
O prefeito também enviou para apreciação da Câmara de Vereadores o plano de reajuste salarial de 32 técnicas administrativas e de 82 trabalhadores dos serviços gerais. Ele garante que todos os ajustes foram feito mediante estudos de impacto, que provam que a prefeitura pode arcar com a folha de pagamento.
Para Marco, o município tem condições de valorizar os servidores e sem que a folha de pagamento estoure por conta dos reajustes. Ele diz que na ocorrência de uma sobrecarga nas contas públicas, o caminho e cortar os cargos comissionados.
“Hoje nós temos 62 cargos comissionados, eu sou favorável que acabe com 40, que deixe só 22”, diz. “A valorização do funcionário público é primordial, porque não tem como atender bem a população se não atender bem o funcionário público. Eles são o coração e a razão da prefeitura.”
O outro lado
Divulgação

Fabio Garbugio nega acusações que o afastaram da prefeitura, de que teria pedido propina a fazendeiro
O prefeito afastado Fábio Garbugio nega tentativa de conquista funcionários e diz que essa seria uma estratégia política de seu adversário, Marco Aurélio. Ele revela ao Semana7 já ter sido notificado para reassumir a prefeitura nesta segunda, após nova decisão do TJ, emitida na sexta.
Para Garbugio, Marco tenta cativar os funcionários oferecendo aumento sem saber se a prefeitura tem receita para tal. Segundo ele, o adversário mente ao dizer que houve estudo de impacto sobre os ajustes.
“Esses aumentos foram atos de má gestão. Tudo tem que ter um estudo de impacto, para sabermos se os ajustes não vão pesar na folha de pagamento. Ele sim fez um ato politiqueiro e já extrapolou a folha”, disse por telefone ao Semana7. “Foi a única coisa que conseguiu fazer. Dar esses aumentos de forma imprudente é fácil. Quero ver manter essa receita.”
Sobre os cafés que a prefeitura ofereceu em eventos nas últimas semanas, o prefeito afastado esclarece que boa parte deles foi referente às comemorações do Dia do Servidor. “Não tivemos tempo de juntar todos os segmentos em um único lugar, então fizemos a comemoração em cada departamento. Foram homenagens aos servidores, como fazemos todos os anos.”
Garbugio também nega outras acusações, as quais a reportagem não conseguiu confirmar. Marco disse em entrevista que o prefeito afastado teria retirado o projeto do plano de reajustes dos servidores que trabalham nos serviços gerais e criado 27 cargos comissionados. Garbugio afirma não conhecer esses fatos.
“Minha administração tenta manter a folha de pagamento dentro de um limite de 40% da receita do município. Se ultrapassar isso, nós não conseguimos investir em obras, em aquisições de maquinário e em equipamentos hospitalares.”
Garbugio é suspeito de improbidade administrativa por cobrar propina no valor R$ 17 mil de um fazendeiro. Em troca, ele liberaria um caminhão com produtos agrícolas que estava saindo da propriedade rural. O prefeito afastado nega as acusações.