Lorena Segala
TV Centro América
A sobrecarga de trabalho nas unidades de saúde, o número insuficiente de médicos e profissionais de enfermagem, e a falta de equipamentos de proteção e de medicamentos comprometem o atendimento aos pacientes nos hospitais, policlínicas e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) durante a pandemia no estado.
Nessa quarta-feira (1°), o secretário de Saúde de Cuiabá, Luiz Antônio Possas de Carvalho, disse que há profissionais se acovardando, pedindo afastamento, para sair da linha de frente do combate à Covid-19.
Ele afirmou que, mesmo com editais de contratação abertos, há grande dificuldade de encontrar trabalhadores da saúde para atuar na linha de frente do combate à pandemia.
“Contratamos 10 e sai 20. Desses, talvez 10 estejam realmente infectados, mas os outros é porque estão se acovardando mesmo”, disse.
Entidades que representam profissionais da saúde repudiaram a declaração do secretário de saúde de Cuiabá, quando ele disse que muitos estão se acovardando e pedindo para sair da linha de frente do combate à Covid-19.
O Sindicato dos Médicos afirmou que o secretário procura transferir as responsabilidades e jogar a culpa pela ineficiência em cima da classe trabalhadora.
Já o Conselho de Enfermagem disse que os profissionais não estão se acovardando, mas sim enfrentando-a com valentia.
Para o Conselho Regional de Medicina (CRM-MT), esse foi um dos piores ataques que a classe já recebeu durante a pandemia.
“É importante que o secretário saiba que os médicos não são covardes, os que estão afastados é porque se contaminaram durante o atendimento desses pacientes”, ressaltou a presidente do CRM, Hildenete Monteiro Fortes.
Desde março, os conselhos de Medicina e Enfermagem fiscalizam e recebem denúncias dos profissionais.
No último levantamento feito pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-MT), 12 municípios registraram ocorrências por falta de equipamentos, sendo a maior parte das reclamações em Cuiabá, Várzea Grande e Tangará da Serra.
Segundo o CRM-MT, os principais insumos, EPIs e medicamentos em falta são máscaras, aventais, álcool em gel e anestésicos.
“Provavelmente estaremos enfrentando, em breve, a falta desses medicamentos para sedar esses pacientes e fazer a intubação”, disse Hildenete.
O secretário Luiz Antônio Possas reconheceu que existe dificuldade de comprar os insumos.
“Temos comprado o que está sendo utilizado. Não é estoque para dois ou três meses, como é o normal, porque há a falta de oferta no mercado, mas quando se descobre onde tem, imediatamente o município vai correndo e adquiri”, afirmou.
Atualmente, há mais de 600 pessoas internadas no estado em tratamento para Covid-19 entre leitos de UTIs e enfermarias.
No entanto, os profissionais da Saúde relatam dificuldades para atender esses pacientes.
“Já há um colapso de leitos e logo teremos um colapso de profissionais. Estamos com 400 profissionais de enfermagem afastados por infecção pelo coronavírus e oito óbitos, sendo seis só no mês de junho”, contou o presidente do Conselho de Enfermagem, Antônio César Ribeiro.
Segundo a presidente do CRM-MT, em unidades de saúde que deveria ter três médicos, têm apenas um para o atendimento desses pacientes.